segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Impressões digitais de um estranho País (livro em construção) Comt.

122 - Anda tudo mais Algodão-doce. Ruas e casas iluminadas. Compra-se o trivial E o excepcional.De não esquecer prendas E votos do melhor Que se pode arranjar. Há maior solidária caridade. Mete-se a pobreza e a miséria para debaixo do tapete. Não se resolvem. Nem a solidão. Nem a doença. Depois da festa Tudo há-de voltar à normalidade. De qualquer modo há Festa família Festa luz Festa amor fraterno Nascimento de Jesus e de outras crianças Como muitos colocam nas janelas. Para alguns É o tempo Em que melhor se aquilata A covardia E a hipocrisia De toda uma gente Que na mior parte da vida É indiferente Ao mal que produz Por a nada se opor Sobre toda a trama da treta Que nos conduz e oprime.

123 - Com que voz Navegarei este meu fado Pleno de marés E de praias abertas Em que noz Vogarei este cuidado De ir de lés a lés Por novas descobertas?! Vamos ter cautela Que a corrente é forte Atenção aos escolhos Escondidos nas águas Nem sempre há a estrela Que nos avisa sobre o norte Os medos são aos molhos E molhamo-nos mais em mágoas. Ah a mítica Belém Onde nasceu a esperança De um mundo novo Que as dores ansiavam Viu rasgar Jerusalém E os poderes em má dança Melhorou um pouco a vida dos Povos Pobres que foram pobres ficavam. Já há pouca paciência Neste andar de cá para lá As arengas do velho poder Mordem mais que cão raivoso As ruas exigem transparência Humildade em vez de crachá A vida existe para se viver E o tempo Não pode ser cão tinhoso.

124 - Uma semente É uma ideia de vida. Qualquer ideia de vida É uma semente. Quem a teve não mente Pode apenas não ser querida. E a verdade De uma ideia de vida É conter em si liberdade Asas para a subida Nunca promover a descida. Uma boa ideia de vida Pode ser massacrada Por quem veja a sua glória perdida Se ela for acreditada Por aqueles que têm limitada A sua liberdade E até a sua vida. Mesmo que pareça vencida Tarde ou cedo Se verá semeada E de tal modo cuidada Que outra vida Na vida será surgida.

domingo, 19 de dezembro de 2010

Impressões digitais de um estranho País (livro em construção) Comt.

121 - Bom-dia Solidão Nesta estrada de arrepio Em que a multidão Nos embrulha de frio Bom-dia Solidão Andorinha rasante Salpicando o coração Com voo de levante. E se o dia se vai fiando Nesta roca milenar Ah que não sei já quando Possa de novo voar. Boa-noite Solidão Entre lua e estrelas Há que ter ambição Para olhar coisas belas Boa-noite Solidão Minha amiga e amante Desde o berço és a mão Que me afaga por diante.

sábado, 18 de dezembro de 2010

Impressões digitais de um estranho País (livro em construção) Comt.

116 - Há quem busque um abraço E nunca o encontre Há quem espere uma palavra amiga E não lhe saiba a cor Há quem seja esperança E adormeça em desespero Há quem esteja abrigado E se sinta sem abrigo. A vida por mais guerra que seja É apenas a busca de uma carícia.

117 - As sociedades financeiras São lavadoiros Onde o capital lava dinheiro Ilude o fisco E cria monstros Nos respectivos serventuários. Hidra de várias cabeças Que tem minado o Mundo E o tem transformado Em mais imundo. Se os governos calam e consentem Ao mesmo tempo Que se abatem sobre os mais frágeis Sinal será De que a corrupção Circula nas suas veias E aos Povos Só resta Quebrar Derrubar ameias.

118 - Olhar a estrada. Cansar de terra. Olhar o mar. Delirar de céu. Talvez não seja nada. Talvez pressinta a guerra E possa desenhar Todo um capital ao léu.
Os ventos não andam de feição. Nos bolsos faltam-nos estrelas. Urgem naturais aragens. Urge pão para todas as fomes do Mundo. Há que combinar razão com coração. Abominar todas as trelas. Ressuscitar coragens. Elevar a alma do Mundo.
Saudar arrebóis. Extripar querelas. Sanar as dores. Enxugar os rostos. Ter a alegria do Sete-sóis. Abrir todas as janelas. Recusar doutos pastores. Ter sonhos sempre a postos.
Ouvir caminhos. Ler os povos. Sentir as almas. Saber culturas. Erguer ninhos. Horizontes novos. Atmosferas calmas. Melhorar estruturas.
E depois ?... Um novo olhar sobre a Vida.

119 - Senhores da economia e da política: o vosso tempo de tiranetes Começa a ser ilha Que o Trabalho começa a estar farto De tudo fazer De tudo pagar E muito pouco ou nada receber. Podereis ter exércitos à vossa volta Mas até esses vão entender Que são irmãos dos que se indignam Dos que se revoltam Contra a vossa ambição Contra a vossa prepotência. Sois a viva expressão da traição Porque a economia e a política deverão servir a Humanidade Nunca para a transformar em serva Apenas para proveito do vosso inteiro capricho.

120 - Setenta e cinco anos tem A rádio portuguesa. Longa vida. Curta Vida. Mais jovem do que antiga. Porque não perdeu A ousadia O inconformismo A esperança De que o amanhã Seja melhor do que o hoje. E o poeta que já foi radialista Só lamenta não ter continuado Embora bem mais longe Do que o seu porto de abrigo. A rádio pode e deve ser O maior palco da cultura Sem gravata Nem bravata Só com espaço Para voar.

sábado, 11 de dezembro de 2010

Impressões digitais de um estranho País (livro em construção) Comt.

109 - Enfeitam-se ruas onde Aumentam os sem-abrigo. Das casas e das lojas Escapulam-se vapores De risos e de calor Para as ruas onde Se multiplicam mendigos. Por todo o lado se apela à solidária doação E até há quem ponha na lapela O carimbo de tal confirmação. Todo o Mundo pede alguma coisa a Todo o Mundo. Todo o Mundo dá qualquer coisa a Todo o Mundo. Sacrifícios Ofertas de lágrimas e de risos Pão e tareia Liberdade e prisão Guerra e Paz. Se tudo o que somos Teve por berço milenar um vírus Há algo que pode estar A adoecer Como quem diz A mudar Ou não fosse estranho Tirar a um ser o sol Empurrá-lo para a chuva e o frio E depois Correr a amenizar-lhe A dor e a carência. Há muito de insolvência Nesta coisa que dá pelo nome De ser humano.

110 - Margem sul Ventre de sonhos Rampa de viagens Por entre aragens Nem sempre de mel e medronhos És a mesquita Dos cavalos alados Em viras de sereias Chão que já pouco semeias Onde se levantam outros fados Para bem e mal da nossa dita. Margem sul Senhora dos mil caminhos Pelo mundo espalhados Alcáçovas de poetas-soldados Estrelas aleitando ninhos Margem sul Dos mil caminhos.

111 - Marés à solta Nos mares bravios Pode não ter volta O homem dos rios. Deixada a terra Em recato a chama Compra-se a guerra Nos bordéis da cama. Ondas são sereias Embalo de aventura Palavras são areias Silêncios a sepultura. Quem nos dera A madrugada Que nos lera De cara lavada. Exaustos de tudo Campeões de nada Somos o entrudo Da vida peada. Tanto conquistado Neste mar revolto Agora amarrotado Pelo polvo solto. Volta a servidão Perde a liberdade Canta a opressão Hinos de grade. E o vento mudou E o tempo vai mudando O cravo murchou No medo que nos vai tomando. Povo de tudo esquecido Incensas quem te trai Quando serás de novo erguido Neste mundo que treme e cai?!...

112 - Dedilho auroras Com os pés doridos De tanto caminho Rua frias a desoras Apurados sentidos No mar do verde pinho. Lágrimas são salinas Amantes do sol da manhã Trombeta do novo dia Asas sobre as campinas Pão de mel e romã Gerando nova alegria. Preso és meu irmão Náufrago da ambição Soldado do egoísmo Lava esse teu coração De tanta podridão Filha do narcisismo. Matar o servilismo É destruir algozes De toda a liberdade Amar é todo um sismo Que nos ergue as vozes Contra toda a falsidade.

113 - Mero sopro de vida Somos um dedo de ilusão Folha planando no vento Tão cedo é subida Tão cedo se vê no chão No arado do pensamento. Temos muito hoje Amanhã somos mendigos Ou até sem abrigo Tudo chega tudo foje Entre amigos e inimigos Raro é haver um amigo. Por tudo isto Não se entende o desdém Que mostra o poder Que até insisto Nada é de ninguém E tudo de cada ser.

114 - Com tanto corte Falência Insolvência Fusão Há todo um sem norte Erguendo escravidão. Há todo um sistema Que deserta Da vida aberta E esquece Todo um tema Social que desaparece. Há vida paralela No seio desta gente Que se diz indigente E trama Todo um País que se estatela Em chama. E os velhos vampiros Esfaimados Vêm apressados Pedir mão solidária A todos os suspiros Da pobreza vária. Dar do nada que nos resta É obrigação De cidadão Pois claro Já que não se desinfesta Da rataria este solo raro. É urgente Reerguer o amanhecer Da liberdade Neste continente Da desigualdade.

115 - Não há liberdade Sem dignidade Se cortam esta Aquela jaz diminuída E em tudo o que resta Mais mísera se torna a vida. Para haver liberdade de expressão É preciso haver Liberdade de consciência Total transparência No que é suposto ser Liberdade de opinião. No mundo há Dois modos de reprimir Pelo lado político Onde não falta a prisão Pelo lado económico Onde se ordena a diminuição Dos salários e logo a seguir Das reghras do trabalho E depois exigir A cega obediência Neutralizando a consciência Com doses maciças de receio A que se segue o medo Inestimável recreio Do capital do enredo.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Impressões digitais de um estranho País ( cont.)

98 - Em meio da noite Um rosto caminha Com uma rosa no peito Aberto à chuva Aberto à lua Quase fonte plangente A voz sussurra La la-la La La Lalala... Diz quem sabe Que volta da manifestação Que houve na capital do ódio Contra tudo o que Espolia Enfraquece Agoniza O ser humano Contra tudo o que Desassossega Angustia Massacra O sereno espírito Das Nações. Diz quem viu Que tinha na face Um pouco de lágrima Que lhe voou Do olhar magoado E mesmo assim Leve Levemente Sorria Com a placidez dos cisnes. Para onde foi Não o sabemos Mas há qualquer coisa Que me sussurra Que se oculta Dentro de mim Dentro de ti Dentro de nós.

99 - Exausto canto Todo um pranto De partir Nesta estrada Onde tudo é nada E muito sentir. Da terra ao mar Um céu grande e voar Para sorrir Nesta contenda Em que o real vira lenda De fugir. Em cada ser um olhar Orvalho de beijar E de ouvir Marulho de águas Combate de mágoas Uivo a latir. Gente que marcha e avança Sem perder esperança De sorrir Deitando borda fora Tudo que mal faz agora E construir Tempo novo Querer de um Povo A esgrimir Lua-cheia de amor Sangue força e suor Levantar o porvir. Ó gentes de tanta terra Erguei a Paz e não a guerra Para florir Todo um novo ser Que nos faça alvorecer E não cair.

100 - Ondas do mar profundo Enormes como o mundo São as marés da vida. Rumorejo do silêncio salino Grande birra de menino Que olha o sol No cume da lida. Quem nos dera quem me dera Ser água e sal e onda Beijo profundo quimera E ter estrelas a fazer a ronda. Tudo é pequena e grande luta Nesta eterna e vã labuta De querer eternizar Cada sopro ou cada grito Saudades de um infinito Que pudesse ou nos quisesse amar. Ah quantos se aventuram Nas ondas do mar e furam O corpo que quase é muro Enfeitiçados das sereias Conquistadores de ameias Pássaro que quiz ser duro.

101 - Vieram de longes terras Desbravar o tempo velho Nunca quiseram guerras Só suavizar este relho. No peito eterna chama No olhar a emoção Do querer que por tanto ama com toda a febre do coração. Migrantes de muitas mátrias Convergindo na Praça maior Onde o alarido das pátrias Esfria e vence o amor.Quando ai quando poderemos sonhar Um tempo sem orfandade Onde tudo seja um cantar De profunda irmandade?!

102 - Quando quem vai ao leme Não ouve não entende não respeita O protesto da multidão Que lhe condena a opção Cedo ou tarde será verme Sofredor de ignóbil maleita. Bem que pode atirar Com todos para o abismo E depois inventar inimigos Que os próprios amigos Serão os primeiros a acusar De demente o seu snobismo. Ouvir os Povos é saber milenar Que ultrapassa a história E ousa a coragem De renovar a aragem De saber voar Para lá da memória. Quem o não fizer Vai na barca do inferno Já dizia Mestre Gil Que o nobre é vil Quando não quer ver O mal que faz Ao seu interno.

103 - Palavras são voos de aves Que traçam luminiscências Onde o silêncio imp+era Por vezes são as caves Onde se perdem existências Que o poder desespera. Pela baixa-mar Os mangais cravam raízes No indecifrável lodo Neste ódio-amor Que relaciona países Ador e o ouro são um bodo. Por entre a fragrância dos pinhais Nasce o sol e muito se levanta Nesta bolha azul que borbulha no espaço A fé e o querer São catedrais Onde encontramos a manta Que nos conforta no seu regaço.

104 - E agora já sabes dizer O que está bem O que está mal Neste tempo de incertezas Quando ouves as certezas Dos que teimam fazer-te crer Que o bem é o teu mal E o mal é o teu bem. E agora não tens desculpa Se voltares a dar O teu apoio a quem te traíu E te arrasa de culpa Para justificar Quanto te roubou Em nome do Povo Que nunca serviu.

105 - Tanta miséria Material e imaterial!... Tanto barco sem remo Que à luz sidéria Tudo é natural... Quem me dera escrever Nos muros das cidades A palavra sol E que pudesse ver A partir daí as idades Em arrebol E tudo se incendiasse Rio que perfeito nos amasse E levasse Para o mais que perfeito Mas acabo sempre sem jeito Olhando todas as travessias Esperando apenas ver Quanto me sorrias Num simples amanhecer E eu escrevendo O que apenas ía lendo Na tua respiração Meu amor meu coração Infinitamente Mundo!...

106 - Ecoam pela urbe as palavras Maior flexibilidade laboral: Há rugas maiores Na cidade. Receios Angústias Medos. Todos percebem: Querem-nos peões Dos seus jogos de azar Na roletas dos negócios Dos interesses Da elite burguesa. Nas suas arengas Repetem credos aos Povos E estão-se nas tintas Para velhos e novos. As ruas passam a famintas? Importante é que fiquem acesas Que eles temem as sombras E as trevas. Têm que passar E não ver Um movimento sequer Contra si próprios. Têm que reinar. O resto pode bem penar. Eles que hoje se julgam no céu Breve estarão no embarque Da barca do inferno. Pelo meio Vão triturando tudo Como convém Ao grande Entrudo.

107 - Há todo um mundo a ruir. A visão ocidental da vida está a decair. A visão social do mundo está a cair. A hidra do lucro e da ambição Está a secar a raíz social. Corromperam-se os senhores do mundo. Os povos perdem a noção do justo e do injusto. Tudo lhes parece igual. O poder surge imundo. Tudo é caos inevitável. A economia sobrepõe-se à vida. É urgente tornar tudo mais transitável. Recolocar a vida Em primeiro lugar. De contrário... o horizonte da extinção É demasiado preponderante. O dano sempre foi bem falante. Insidioso. Cativante. Mas nunca deixou de ser Impiedoso. Quem opta por tal Destrói toda e qualquer Filosofia social.

108 - Na roda da solidão Há ventos estranhos Que sopram de longe Marchetando as praias Querendo quebrar O que somos. Querem-nos sem abrigo Numa Europa Em que a lógica Ainda é de senhores e de vassalos. Pobres suseranos: quanto mais fragilizarem Vassalos e outros peões Mais frágeis serão E de tanto espalharem danos Pouco mais terão Do que alçapões Onde um dia cairão.

domingo, 21 de novembro de 2010

Impressões digitais de um estranho País (livro em construção) Comt.

93 - Levantemo-nos do chão!... Caídos sabemos que o céu Nos chama Há que erguer Há que ousar Há que voar Mais longe Do que o tempo Nos quer deixar. No chão deixamos a sombra Do que fomos Passo a passo Pulso a pulso E só dura O vento de um sopro Memória que gostaríamos Contínua. Do chão erguidos Seremos a recusa De tudo o que nos abusa De tudo o que nos trai. No chão Não teremos mais Do que o desfalecimento De tudo o que cai.

94 - Se a mão flutuasse Quando só pintasse O céu e o mar E tudo o que se arrastasse Assim elevasse O verbo seria amar. Dar asas ao vento é Brincar com os astros E sorrir Viver é acto de fé Tirar urtigas de alabastros E florir.

95 - Tu que levedas vidas Nesse teu ventre Desde que o humano ser Se afirmou Olha-te bem e procura O que não foi feito O que foi mal realizado Para que o mundo seja tão cruel. Tu que à vida dás outras vidas Tu que as amamentas Acarinhas Alimentas Corpo e espírito Tu que lhes moldas o ser Mais do que a carne Pensa bem no que é urgente mudar Para que o mundo se firme mais Amor perfeito.

96 - Porque o pão escasseia Em tanto mundo Quaqndo o mundo é obeso de fortuna?! Porque tanta criança Não tem brinquedo Mas é farta de trabalho e guerra?! Porque tanta doença Mata tanto mundo Quando o mundo É sábio de tanta cura?! Porque tanta terra Agoniza e morre de sede Quando a terra Tem tanta água doente?! Pela ambição de uns E a covardia de todos?! Quando aprenderemos A fazer florir o tojo Com todo o amor que pomos No florescer da roseira?! A fragilidade Deverá enternecer A nossa fria razão?! Quando marcharemos pela luz Em vez da treva?!

97 - A Nato é o músculo Do neoliberalismo Económico-financeiro. Ambos o caminho certo Para a miséria crescente Dos Povos. Tudo isto não é mais Do que a estratégia Da aranha. A permanente conspiração Do egoísmo Da ambição Sem regra nem lei De uns quantos Que se creem Especiais senhores do mundo. Substituir Nunca. Acabar de vez com os tiranos Sempre! A Paz só depois Poderá triunfar!

sábado, 13 de novembro de 2010

Impressões digitais de um estranho País (livro em construção) Comt.

86 - Príncipes de nada Somos a marcha da ilusão Craveiros de uma estrada Que esqueceu o coração. Malditos e escorraçados Quando vem a tempestade Difamados e mutilados Em nome da liberdade.Povo Ron povo de caminhos Fragrância do que não quer coleira Somos fogo dos mil ninhos E a dança da comum fogueira. Lemos sinais nas estrelas Nas linhas da palma da mão Queremos avenidas e não vielas E estar de bem com qualquer Nação. Se teimais em nos acossar Muita da vossa liberdade Já foi queimada Algo de profundo está a findar Naquilo que seria terra-mãe civilizada.

87 - Obrigado Excelências Por tudo o que nos tirais As vossas existências São meros funerais. Quando se seca uma raíz A árvore adoece e morre Porque razão um País Pensa viver Quando o rio não corre?! Quem se indigna e se manifesta Para além da rotina Quer salvar o que nos resta Para semear nova vida Pela matina. Obrigado Excelências Por tanta azáfama que mostrais Para que naveguemos Sem escolhos de maior Até ao cais das insolvências Amor pátrio que nos dais Para que não fiquemos órfãos dos nossos ais.

88 - E é vê-los Em desvelos De argumentar Que quem fez os novelos Espera que todos queiram Arregaçar as mangas E dar as mãos Para remar e remar Vencer a porcela Que a vida é bela Mesmo que escanzelada Por culpa de tudo e de nada Que os mandadores Sem lei nem roque São afinal salvadores Das nossas tristezas. Nada de tibiezas Apertamos os custos Por mor das doutas certezas Que nos deram abismos E mil outros sismos Para sermos felizes Mesmo que pensemos o contrário.

89 - É urgente Imperativo Nova ordem mundial Que torne inocente Curativo Viver de modo natural. Tudo é abismo Neste mercado Intenso e global Profundo sismo Que tem trucidado O mundo real. Há muito para salvar Imenso para redimir Muito mais para nascer Se ousarmos amar Se soubermos dividir E sobretudo Renascer.

90 - A miséria humana Reside mais Nos que estrategam Grandes fortunas Grandes impérios Grandes poderes Do que naqueles Que têm que gerir A ausência de tudo. Que seria do mundo Sem os mercados?!... De certeza Menos imundo Que a vida que a vida tem É muito mais Do que este vai e vem Entre a ambição E a resignação E os mercados São os pecados Que todos condenam Enquanto desejam Para porem a coleira e a trela No seu irmão No seu semelhante. Deste modo A raça humana Exibe-se aberrante.

91 - Saca daqui Saca dali É tempo de esmuifrar Até ao tutano Deste Zé-Povinho Sempre indeciso Malandrinho Muito mano No desenrascar Mas pouco preciso No acto de levantar A indignação Com coragem de mudar Salvando a Nação. Ele próprio senhor E não penhor Dos latrocínios Com que muitos têm erguido a sua ração E que o querem servil Para mais facilmente Não fugir do ardil. E assim se enterra Abril.

92 - Ouvi a tua voz Quando a perdera No caudal do tempo. Renovam-se desejos De que o corpo se materialize E nos renove A amizade De um abraço. Mas tudo é casca de noz Vogando no imenso espaço. Quem nos dera Que os voos fossem Uma sinfonia de beijos E os sonhos eterno deslize Onde tudo se move Em liberdade. Prometemos um reencontro Na saliva do mar. Quando? Ambos sabemos Que não sabemos quando.Há imensas naifas Nos corredores da vida Onde nos vão assassinando Nunca de vez E acabamos drapejando Como qualquer aceno Que um dia nos fez sorrir.

Impressões digitais de um estranho País (livro em construção) Comt.

83 - Até quando nos autorizamos A morrer neste vagar De muito amolecer Esperando o que não esperamos Como areia ou pedra na onda do mar? Até quando nos lamuriamos Nesta orfandade da vida Quase saudade De tudo o que desejamos Como utopia arrependida? Raios nos partam Tanta cegueira Raios nos partam Tanta covardia Raios nos partam Tanta bandeira Com que tudo nos atrofia. Há que mudar de bússola Que a que temos já avariou. Tudo o que não liberta pessoas É fraude que não amainou.

84 - Quereis sonhar? Investi na razão Com o coração E sabereis navegar No oceano profundo Por mais tempestades Que afronteis As sabereis deslaçar Construindo de facto Um novo mundo Onde a competição Apenas tem esta auto-interrogação: Quantas mais mãos nos faltam dar Para ganhar Um pouco mais de luz?! Neste real onde perigamos Só ganhamos Treva e dor Por muito que inventemos risos Mascarando o choro Que nos alaga.

85 - Quero ouvir-te dedilhar A vida que somos quando Olhamos sem mastigar O terno clarão do horizonte. Bailando como navegando Saudamos a essência do marCom um génio de um puto Saltitando sobre uma ponte.E nem sequer disputo Qual de nós é a luz Que ilumina tudo o que damos Neste tempo de credo e ai-Jesus Apenas quero ouvir-te dedilhar Nas tranças da lua-cheia Tudo o que somos neste doar A vida que nos incendeia.

Impressões digitais de um estranho País (livro em construção) Comt.

79 - Ignorância Preconceito Receio Três condimentos Necessários à arrogância Com que os conservadores Dominam espíritos.Portugal é conservador. Porque não haveriam de ser conservadoras as suas políticas? Mesmo que dê fome e ranger de dentes Serve-se uma boa açorda de fé E venha o vira mais o malhão. Assim se pensa Navegar para o futuro. Óptima excentricidade turística!...

80 - Há encruzilhadas Onde tudo parece ser Contrário.Há horas em que tudo parece Desabar. Sempre sobre os mais frágeis. Quando os deuses Parecem moucos Os homens afirmam-se Loucos. Onde o raio de esperança Em meio de tanta treva? O egoísmo de alguns Pode matar a solidária vida de outros? Quando tudo se nos desaba Será que algo começa Onde tudo se nos apaga?

81 - Meninas vamos ao vira Ai que o vira é coisa boa...Assim se cantava Nos velhos arraiais nortenhos: Ah que formosas danças Mira Que volteiam a caminho de Lisboa...Assim se narrava Entre o partir de dois lenhos. Como o tempo vai Dá ganas de cantar Vamos todos ao vira ai Que este malhão já farta E de tanto nos fartar Há que dar da despedida A carta. VÊ lá senão te enganas Nesse endereço preciso Se não ainda te esganas Ao quereres dar um só aviso. Toma cautela na escolha De um teu novo par. Grossa ou miúda A chuva molha E molhados Ninguém gosta de dançar.

82 - Aleluia Neste tempo de incertezas Haja Paz e florescimento Das antigas certezas Alicerçadas em novo conhecimento Que viajamos até ao âmago da luz Descobrindo a verdade Em cada gesto Tendo um sonho que nos conduz E a claridade por manifesto. Pela Paz havemos de florir Novo mundo Neste apodrecido Na orla dos mares Havemos de sorrir Saudando amor rejuvenescido. Por mais escolhos que nos deem Novas estradas descobriremos Eles não sabem o que vêem Olhos de fogo com alma de remos.Somos caminheiros da esperança Eternos sonhadores do mais que perfeito A vida é longa e subtil trança De sal e mel e um Sol como peito.

domingo, 31 de outubro de 2010

Impressões digitais de um estranho País (livro em construção) Comt.

74 - A lua cheia já passou Numa azáfama de pensageira. Namorou mas não cativou Que graça é ser brejeira. Esperar é desespero Deixar-se surpreender É aventura Por ti espero e nunca espero A sumptuosidade de viver Uma loucura. Amar é ser livre e cativo Disponível ao momento Ser simples humilde criativo Em cada acto e pensamento. Nada é tudo sendo nada Ninguém é dono de um ser Encontro é dádiva esperada Em cada noite futuro amanhecer. Amar é sentir a pulsação Mesmo longe estar dentro e perto Sentir e saber o coração Que pulsa e pensa o encoberto. Adoro o teu corpo e os cheiros Do ser que vive dentro do ser Que me torna pensageiro Nesta realidade de acontecer.

75 - Querem que vá por ali Mas não hei-de ir senão por aqui. O velho Régio Não parecia Mas revoltava-se E teimava Em não ser um pau-mandado Da velha escória lusa. Hoje quantos terão dessa fibra? Dizem sermos um País oceânico. Quem não provou do sal marinho Quem não sofreu sulcos dos cordames Quem não viveu dramas de naufrágios Será capaz De ter de tais fibras? Os cavaleiros da nossa desgraça Litigam com arroubos De namoros de rua. Por mais á E menos bê Teremos todos o destino O fado Que eles dedilham. Esfacelam-se a demonstrar Não haver alternativa. Esquecem-se que somos um País de corridas de toiros. Ao fim de tanto Nos obrigarem a ir por aqui Porque não haveremos de ir por ali? Ah velho Régio o gozo que dá Optar pelo inverosímel?!

76 - Amor Que desejo a meu lado Amor pleno de liberdade Não me deixes muralhado Queimando esperança Em óleo de ansiedade.Nesta estrada tudo é tardança Por mais liças que tenha e persiga Que fazer para ser resgatado Desta arena que me fustiga?! Amor que desenho numa tela Onde se multiplica a solidão Amor que desejo estrela A anunciar ressurreição Não me condenes ao deserto De todo um tempo mais que hostil Menos longe e mais perto Há muito de insurreição Que deseja semear Um novo Abril Em hora do ronco do mar. Amor que quero e espero Nesta fome de abraço e de beijos É pela dor que me supero Com o sangue quente do desejo.

77 - Sarça ardente Primeiro espanto Revelação Dessa voz diferente Profundo canto Inspiração. Memória antiga Que transportamos Por testemunho Do que nos instiga Ao que amamos Vida em rascunho. Criador-criação Tempo-consciência Esperança de melhor Acto em coração Riso-transparência Dura vida em amor. Barco em asas Anjo que nos guarda Indizível amizade Respirar em brasa Inocência que brada Tudo é liberdade. Galáxias-oceanos Planetas-aldeias Bocejos-eternidade Mãos francas que damos Para vencer sereias Que escondem tempestades. Somos eco do profundo Grito do movimento Que acha o desconhecido Eterno mundo do mundo Que dizemos pensamento Sangue-vértebra Do esclarecido.

78 - De cada vez Que se abre uma porta Outra logo nos desafia Nada é de vez Nada se importa Com o inseguro Que se nos cria.Sonhos são esboços Do que imaginamos Construir e ser verdade Podem ser poços Onde com sede Nos afogamos Sem que se solte liberdade.Vamos ao sabor Das nossas ilusões Até que os olhos se cerrem Carregados de dor E poucos corações Até que nos desterrem. Pétala a pétala a flor É o momento da vida Respirado e bem suado Se lograr amor Terá renascida A vida de cada passo dado.

Impressões digitais de um estranho País (livro em construção) Comt.

70 - TEMPO: combóio que não pára Nesta linha do respirar. Quando era a vapor A sua magreza Deixava-nos saborear melhor A vida que nos enleava. A diesel As coisas começaram a ser mais agitadas Mesmo assim Ríamos Prendíamo-nos Aos novos sabores e cheiros Que a vida nos ofertava.Depois electrificaram-no. Alterou-se o registo. Louco Cada vez mais louco Já nem resfolga E cada vez mais É apenas um traço Que nos leva e traz A velocidades inauditas. No seu bojo Tudo o que é externo É sombra que de nós foge Que não sabemos de metas Nesta corrida De a-ver-o-que-acontece. Valerá a pena Tanta velocidade Até à perca do fôlego?!...

71 - Onde estamos Não estamos Aqui ou Em qualquer lugar Somos barro Com sabor a mar Noite com vontade De madrugada Com quem lava o sarro No rio da Liberdade E todo o passado É nada Ante o que se pode construir. Mas o porvir É mais do que terra É mais do que água Sem o saber ele enmcerra O despir de muita mágoa Que nos tem cosido Todo este tecido Com nome de Humanidade.Temos que ser Mais espirituais Menos presos a bens materiais Para que se cumpra a liberdade Floresça a inteligência Em toda a sua transparência De ser apenas e só verdade.

72 - A elite nacional Está em festa: adora cavalgar. Sela de austeridade Sobre o eterno Zé-Povinho.Corta-lhe mais e mais a ração. Arreata forte Para diminuir a liberdade Não lhe vão passar ideias De galopar à tripa-forra.Para bem da Nação Há também que reconduzir O impoluto O asceta Da bizarra economia Que só dá bom-dia À banca de Gomorra.Cada vez mais Há que extorquir. Dá jeito que o Zé-Povo Seja bruto Que regeite greves gerais E que nem sinta as veias De tanto ter que bulir Para que possa luzir A nata desta velha Nação Essa tal Que sempre fez do rico um ladrão E do pobre pessoa de bem Apesar de dizer o contrário E o Zé-Povinho Muito esquecido do manguito Ser tão ceguinho Que vai ficando sem grito E ainda aplaude e vota Na eminente bancarrota Em que essa fidalguia burguesa Transformou a sua mesa. Quem nos absolvirá De tanta fraqueza?

73 - Sitiados Estamos todos Neste redondel Da vida que cumprimos Por nosso erros Este gostar de viver E não dar desterros Aos que nos apressam o morrer. Abraços dados A tudo e a rodos Deu-nos a vida de cordel Que não assumimos. Somos um Povo Que gosta de pastores E de balões de festa E mesmo não sendo novo Bloqueia-se de amores Por qualquer ilusão indigesta.Nada de chorar. Morrer é apenas navegar Num outro oceano Com tanto ou mais engano.

Impressões digitais de um estranho País (livro em construção) Comt.

66 - SOLAR: só lar:sol ar. Só o lar Nos aquece No dofícil da borrasca. Quem nunca o teve Cria um Com todo o desejo Do que não teve.Quem o não tem Vê menos abrigo E pode ter frio Por melhor causa de morte. Sol e ar: o necessário Para que a vida aconteça. Solar deveria Ser O leme de quem ordena As rotas Da geografia quotidiana. Nem o Rei-Sol Fez jus ao cognome. Brilhou e brilham. Nunca de forma solar. Se assim o fizessem Não haveria filhos e enteados. Apenas irmãos. Não acham?!...

67 - ÁGUA: mágoa nossa Raíz de alma Início de aventura Estrutura Do que somos Frágua De onde o voo Se imagina Se projecta Além das sombras Que nos olvidam.Água Virgem nossa mãe Que tanto desperdiçamos E envenenamos Com toda a displicência Cartaz da nossa negligência Em estridência Quanto ao que ora temos: medo de não chegar De poder ser raíz De guerras monstruosas Que a potável Está a minguar a minguar A MINGUAR E a vida não suporta A sua ausência... sobretudo A nossa vida é claro!...

68 - Para cúmulo do descaro Vem o ministro das finanças dizer Que podemos perder a independência nacional Se o seu orçamento Lesivo do Estado Não for aprovado. De que independência se fala? Embora não assumida A Comunidade Europeia é Federação de Estados. Dela surgem todas as normas. Somos independentes? Míopes ou asnos? O ministro enloucou? Atraso mental? Por favor: não nos rebaixem mais Do que já estamos Por mercê da nossa própria estupidez Que permitiu Esta cáfila de abecenragens. Deem-lhe o colete de forças E levem-no a banhos ao Júlio de Matos.

69 - Neste País Em que o devedor Mesmo que pague parte do que deve Passa por criminoso E dissoluto devedor Sem que se considere O menos que se lhe tira Sem já falar do máximo E se lhe exige o mesmo cumprimento Como se recebesse o justo E não descontasse o injusto... somos todos criminosos Menos quem tal ordena Que de serventuários se fizeram Donos Pelo deboche em que se transfiguraram Mesmo que pensem que são puros...rapinantes!...

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Impressões digitais de um estranho País (livro em construção) Comt.

63 - Na roda do fogo Deste andar na vida Há um larvar encanto Que nos treme e maravilha. Dizer até logo É ter chegada na partida Penteando um canto Barco que desvenda a ilha. Que novas há nos teus olhos Quando voltas e me visitas Com tanta e toda esta ternura De um cais que me segura e abriga?!... Há flores cardos e abrolhos Pedras soltas frases ditas Momentos de aventura Onde apenas cabe mão amiga.

64 - Somos todos pessoas de bem Dizem os que espoliam os Povos de tudo. Somos muito honestos Pragmáticos pelo bem empresarial Dizem os que decretam Salários baixos e despedimentos A bem da competição. Somos muito esforçados na defesa dos Países Dos ataques dos mercados Dizem os que autorizam a asfixia dos seus Povos. Será que os manuais da criminologia Estão consentâneos Com o mundo de hoje Ou este mundo é mero expectante Do descaro total?!...

65 - Tudo o que de bom fores destruindo Ou consentindo No seu desmantelamento Dificilmente o verás ressurgir Do caos gerado pela destruição.

sábado, 16 de outubro de 2010

Impressões digitais de um estranho País (livro em construção) Comt.

61 -Tange o teu violão Alma serena Desta água que nos lava De toda a mágoa Neste coração Soprador de avena No cântico De uma praça maior Onde os sorrisos Florescem pessoas Que vêm do longe Famintas de amor. Aqui se encontram Aqui se lavam De todo o pavor Que as fez virar costas Aos seus servidores Que se proclamaram senhores Para os assaltar E humilhar. Que serão eles Sem estas pessoas? Loucos que se esganam No seu próprio labirinto. Urge virar costas Aos que nos tramam a vida.

62 - Quem trabalha é Trabalhador. Porque será que trabalhador é Quem trabalha a dor?!...Conceitos!... Cada profissão é Uma arte Uma especialização. Uma profissão Nunca poderá fazer de alguém Dono de outrém. Porque será Que certas profissões Julgam-se senhorios dos outros?...Absurdos!... Entre estes conceitos e absurdos Medeia o tempo de liça Em vez de um tempo de encontro. O problema É que o tempo de liça É a fulgurância Abundante Da estupidez Que ainda por cima É ceguinha de todo !... Chiça!...

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Impressões digitais de um estranho País (livro em construção) Comt.

55 - Transformação: Para lá da formação. Algo que ultrapassa O existente. O que é. Será este O tempo que respiramos? Pela nova consciência ambiental Pela nova consciência científica Pela nova consciência cultural Pelo novo saber tecnológico Há muito de transformista. Tudo o mais é A velha rábula do Naufrágio: Todos sabem que vão cair ao mar.Uns vão ter lugar nas balsas Outros nem tanto. Uns quantos Tentam levar o máximo das riquezas Mesmo que comprometam A sua salvação E a dos outros.Seja como for A vida tem destas coisas. O certo é que o novo Nada tem a ver com o velho E neste entretanto Novos e velhos Amargam o pão e a cama De cada dia Mas não param A transformação.

56 - O mundo Em que nos formataram Está a desfazer-se. Já não existe. Já Camões cantava: Todo o mundo é feito de mudança... Hoje mais célere Do que antanho. A mesma economia A mesma justiça A mesma medicina Entre outros Já não detêm respostas Para o novo que aí está. A democracia Exige a democratização De todos os sectores do conhecimento. Impede o lucro por inteiro Nas arcas de alguns. Exige a mobilização de cada indivíduo Para o êxito comum. Tudo isto exige um humano novo. Menos preconceito. Mais clarividente. Mais culto Na diversidade que a sabedoria é. Mais tolerante. Mais ponderado. Sobretudo: uma humanidade que não se dispute Para que possa disputar A vida que sendo finita Deverá ser preservada Acarinhada Para que seja menos finita. E porque ninguém é dono de nada Sendo todos donos de tudo Têm direito Ao melhor da vida. E este melhor Será por acaso e tão só Questões materiais? O excesso de materialismo Não adoeceu o mundo Que se asfixia em crises sucessivas? Não foi a ganância Quase infinita De alguns Que nos está a cilindrar a todos? Se o povo anónimo Se levanta em protesto Não será para pôr em evidência e cobro a tudo isto? Quem somos O que queremos Para onde vamos?

57 - Os predadores não desarmam. Mesmo que não aboquem Dilaceram Rasgam Pelo prazer que têm Em destruir Quem lhes faz frente. Silêncio A arma dos inocentes. Se o silêncio convergir E se tornar rio E se transformar em mar-oceano Os predadores Não temem? França converge em greves sucessivas Indeterminadas nos prazos. Jovens entendem a luta sénior E cerram fileiras. Os predadores não tremem? Neste Portugal em ocaso Onde estão as forças Deste silêncio que marcha Farto de ser Espezinhado Nunca ouvido Com carícias eventuais de mero interesse? É urgente acordar. É urgente erguer o silêncio Que tanto tem hesitado E nunca melhorado. É urgente Mostrar a vontade de erguer de vez A liberdade. Com toda a dignidade Que o silêncio é capaz de assumir: Levantar um muro de gente E escrever Com aparo de multidão Este berro Este grito: BASTA!

58 - Canção à vida No Chile dos mineiros. Soterrados na mina. Dois meses. Trinta e um homens. A terra libertou-os Pela teimosia do mundo De todos. Canção à vida Prova de que a humanidade é Uma família E que só se salva Quando todos dão as mãos Unindo vontades Almejando cada propósito comum. Guerras Invejas Ambições Egoísmos Ante esta canção à vida São a evidência Da estupidez. Cantemos Como no Chile dos mineiros SEMPRE!...

59 - Amar: para o mar. Para o ventre da vida. Para o âmago da vida da Vida. Doação. Pela disponibilidade Da aceitação Do encantamento Da crença Do querer. Amar um ser É pouco sendo muito. Amar tudo o que a vida é É todo Sideral. Amar a multiplicação É dádiva em aceitação. Amar a criação é Sincronização perfeita Caminho Para a simbiose plasmática Com o todo sideral. Por enquanto Somos mera vaidade Da insignificância.

60 - Senhor Povo: Que chamais a quem rouba A quem extorque O que pode e o que não pode A outrém Para benefício próprio E de seus amos ou amigos?... Criminosos?...Elevais à justiça?... Porque esperais Ante quem vos expolia de tudo E até da alma?...

domingo, 10 de outubro de 2010

Impressões digitais de um estranho País (livro em construção) Comt.

50 - Pedem-nos Responsabilidade. Solidariedade. Cultura. E vai de roda. Diferentes. Amigos. Tolerantes. Há que dar a volta A tanto absurdo. E vai de roda. Correntes. Inimigos. Feirantes. Farsantes. Tudo o que vê milagres No cavalgar dos Povos Pede aos Povos O que lhe sacou.Para evitar naufrágios. Dizem com o ar mais beatífico possível. E vai de roda. E vira que vira e torna a virar E acaba tudo num grande Enormissimo malhão. Freme o coração Com tanto volteio De incerteza. E o mar Será esteio De futura riqueza ?!...

51 - Das escamas piscícolas Há quem faça flores. Das escamas sáurias Há quem faça sapatos malas cintos. Que faremos da pele hominídea Que os governos tanto se esmeram em tirar ?!...

52 - Chiu!... Nós os banqueiros Nós os economistas Nós os gestores Nós os que governamos o mundo Dos negócios Da política Das religiões Declaramos: Inventámos um mundo permissivo Demos uma espiral de fortuna A muitos E tudo isto acabou Teia-de-aranha Para quase todos. Chiu!... Agora Solicitamnos A vossa solidariedade Compreensão Resignação Para que useis a tanga No corpo e na vida E que muito bem vos fica Para que possamos endireitar Todo este caos Caldo suculento Dos ricos dos ricos E concerteza Que um dia destes Vos mostraremos Um mundo melhor O dos resplandecentes Sempre servidos Pelos baços-cinzentos. Crede: bom será para todos Que este seja o futuro De contrário Nada terá piada Como facilmente compreendereis !... Chiu!...

53 - Ah Como rolam Rebolam Nas suas ansiedades Os escaravelhos!... Como todos Os que pisam passeios Asfaltos Escadas De pedra madeira ou rolantes Por dentro do chão Por cima do solo Dentro e fora dos edifícios Longe e perto das nuvens Andam Param Correm Com fome e sem ela Absortos de fêmeas e de machos Crentes e descrentes De deuses e de santos Mendigos de tudo Pedintes de nada Mais governados do que Governadores Menos livres Mais escravos Das banmcas e dos patrões Plenos de raivas Com parcas chamas Para romper Com as cangas da Sereníssima Ordem Que os vampiros mantêm Para que não lhes seque O sangue vivo Das manadas. Ah O bom de ser escravo É admirar o seu senhor!...

54 - Amoreira Amor na eira Livro por abrir Ainda Que muito venha ferir Para florir Para sucumbir Para dormir Para sorrir Meu deus Como um adeus Bem visto é Um ir para deus Segundo o tear ancestral Que trabalha em Portugal Para que se não diga Que a voz amiga Pode também Ser inimiga Aqui e além Onde tudo se rediga.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Impressões Digitais de um estranho País ( cont.)

38 - Um espirro Ecoa na rua. Um cão Chora ausência. Um esbirro Algures amua Por quase não ter assistência. Não nos falta demência No decidir de cada momento. Pouca é a transparência No esgrimir do pensamento. Assim vai Assim anda Assim roda Assim cai Vexas politiqueiras Alta roda Baixa roda Merda para tanta boda Que tresanda A farras batoteiras. Quem foi que disse Quem foi que fez Tanta aldrabice Em português ?!... Um saleiro de brincar Um pimenteiro de fingir... Tudo pode melhorar Se o Povo não dormir.

39 -Somos a música das ruas Nesta pauta do trabalho Sete sóis e sete luas Para pão e agasalho. Há medo nos labirintos dos crâneos. Uns querem tudo Outros batalham Por quase nada. Dar dinheiro aos povos Abre janelas de esperança. Quem isto não quer Apenas entende sofreguidão Tubarão que de tanto explorar Não vê Quanto solo está a secar.

40 - Tudo parece desabar Neste Portugal a olhar Todo um horizonte Prenhe de marés e de sal. A vida para uns a minguar Para outros a ponte Para um tempo de carnaval. Há todo um tempo de trincheira.Quem é capaz de o cumprir? Tu que pareces andar a dormir Fazes do teu sangue a bandeira? Será que queremos viver Ou apenas sobreviver? Seremos capazes de renascer Arrancando o joio de tudo O que somos?

41 - Acende a luz No pleno do corpo De tanta escuridão. Semeia de verde O que agora se atulha De cimento. Na vida nada se perde Tudo se transforma Com muita bulha E estouvamento. Porém tudo nos conduz Para um pulsar simples De pequeno coração!...

42 - Rio de estrelas Leito de ervas Sopros de alecrim E de rosas Caminhos de aves Caminhos de fontes Auroras de chilreios Silêncios e volteios Ígneas borboletas Rasgando nos montes Fábulas amorosas Águas e suas caves Catedrais belas Prenhes de cores Geniais servas De todas as pontes Tempo de pulsar De ouvir e de olhar E resplandecer Ouvindo o mar A amanhecer Que tudo o mais Ficou no olvido Pó de temporais Das coisas irracionais Loucas e sem sentido Que quase nos fulminaram E tanto conjuraram Para destruir O que pensavam Construir. ( Já chegámos Ou vamos a caminho?).

43 - Não. Não vamos a caminho De milagres. Caminhamos Para fogueiras. É tempo de vinho. Bebido entre rochas Ao clamor do mar Em Sagres. Destemperamos bandeiras. Sofremos o arfar Das mil contendas. Saudades Das mouras tendas E suas liberdades. Há um grito de guerra No ar Escasseia terra Para amar. Abunda terra Para odiar. Calafetados De silâncios. Gretados Por mil salinas. Há que levantar Corcéis. Divagar Entre bordéis. Não pensar mais. Há que decidir. Não deixar o Povo dormir. Desfraldar um novo porvir. Assassinar a doença Que nos mina. Acabar com a malquerença Que nos fina.

44 - Encostar Povos às paredes Não é tempo novo Antes grilhetas e redes. Povos São ovos De liberdade. De dignidade. De crenças-sorrisos. De balbúrdias e sisos Onde definhar É proibido. Se nos estão a minguar Haverá que dar lugar Ao recém-nascido. E das mil fogueiras Onde nos queimam a vida Levantemos bandeiras De esperança nascida. Encostemos à parede Quantos nos roubam E atrofiam. Haja uma voz Num só corpo Um Povo Todos nós Uma vontade De ter de novo liberdade De inventar Um caminho Que mesmo sendo mar Possa ser vinho De um amor Tão solidário Que dê ao suor O signo comunitário Que erga a dignidade De quantos desejam Humanidade No simples acto de viver.

45 - O tempo do nosso anonimato Transforma-se em ultimato À nossa simplicidade À nossa humildade A todo o nosso desassossego Em que este ter Ou não ter emprego Nos faz perecer Mais do que alvorecer. Ainda me pedes Para ter saudade Do teu corpo E dou por ela Submersa Na ansiedade Controversa Com que saudamos Os dias que suportamos. Para onde emigraram As nossas triviais alegrias ?

46 - Sentado No muro da brisa Trauteando o luar A serpente do rio Rastejando Ao fundo Murmurejando Até ao mar Cismo Na vida possível Interdita Pelo governo Que se esmiufra A explicar Que nos esgana O quotidiano Para nosso bem E da Nação E o quotidiano A ficar sem pulsação E a malta a temer O pior do pior Que já tem E a malta a tremer Mesmo que refile E mostre que está rija E luta Pela esperança De travar a desesperança E pensar Que era melhor Qualquer coisa Com mais amor Para com quantos Mais sofrem Agruras de vida E por arrasto Para todos os outros Menos é claro Para os cleptómanos Que governam Ou querem governar As nossas vidas Já tão puídas E esmiufradas Esqueléticas Tanta é a aneroxia Com que nos banham E nos apanham Com falas e redes de receio Até que nos mijamos Pela falta de ar Nas algibeiras E que ainda não chega E querem sacar mais Para bem da Nação Para nosso bem E a estranja goste de nós E nem temem Que a malta vá para a rua Gritar Como cantava o Zeca Porque nos creem pacíficos Compreensivos Parvos diremos nóa. Será assim ou Resolveremos ser gente a sério?

47 - Nos cem anos republicanos Recordo falas da bisavó A aristocrata que se viu De casa cercada Pela tropa monárquica E até lhes deu de comer Que o marido era republicano E clandestino Sem que ela lhesoubesse Paradeiro ou destino Até que mataram o rei E o belo do Luís Filipe Príncipe herdeiro E a casa ficou sem cerco E a república foi proclamada E o marido voltou E ela Sempre discreta Assistiu às vinganças Dos vencedores Até que o marido partiu de novo Para negócios que tin ha No brasil republicano E quando voltou Trouxe doença rara Que ela cuidou Até que ele partiu E ela viúva se viu Com dois filhos entroncados E nunca mais casou Assistindo apenas Ao fazer e desfazer da vida e dos sonhos Do seu País.

48 - Não digas sonho Em tempo de pesadelo Sonha apenas Para que o teu dia Seja um pouco mais belo.

49 - Imensas As candeias Imensos Os mestres Se pensas Hasteias Consensos Terrestres.

sábado, 25 de setembro de 2010

Impressões digitais de um estranho País (livro em construção) Comt.

27 - Há pranto No riso Que planto No siso de cada canto Há luz No parto Que conduz Ao quarto De cada manto ... Assim cantarolava Na noita fusca O vento Que madrigava Um pensamento De olhar e busca E tudo Se entornava Como entrudo Que passava À cata Do tear da vida Tempo de subida Tempo de descida Ai gata Que ronronas Quero lá saber De tanto desfazer Que humana gente Treme e sente Sendo ela autora Da força motora Da sua tristeza Que vira alegria Concerteza Ao nascer do dia Que lavra Todo um tempo Da palavra!...

28 - Pinto Um mar de absinto Onde barcos de fogo Desenham viagens Paisagens Colagens nesta que temos Por decifrar. Faltam-nos remos. Oiço gritar. Como ajudar Quem navega No alto mar?!... Espanto Quase pranto Por quem possa naufragar. Quem viaja Segue missão Foge da prisão Ou apenas recreia E se penteia Para agradar Ai vento Que ondula o mar Meu pensamento Que se incendeia Ao ver Que rareia Tanta terra Aos que guerreia Por pão. Tic-tac-tic-tac... Freme Aflito Coração Em grito.

29 - Consumo Fio de prumo Desta mercancia Global. Afinal É só fumo Nesta selvajaria Mundial. Os povos tremem Gemem Querem apenas Pão e alegria fartos de penas Querem harmonia Para inventar Estrelas no mar E dançar E voltear Entre chilreios de aves e águas Que escrevem passeios Sacudindo mágoas Para longe Deste perto Onde um monge De peito aberto Agradece à luz Toda a simplicidade E a verdade Da humildade de saber Que nascer Anuncia o morrer Como oferta Da descoberta De sermos apenas Um verso Que acrescenta Melodia Ao universo.

30 -A liberalidade Ataca. Farta de contemplações sociais. Saudosa de ter sido Revolucionária Há dois séculos atrás. Por onde tem andado Só tem feito Caca Ou não seja estouvada Por capitais. Até se tingiu de carbonária. Deseja a marcha atrás Que os Povos são pau mandado Com mais ou menos jeito. De contrário... zás-catrapás-pás e Bum!... Cada bola mata um... Desde que tenha ouropéis Tudo o mais Pode bem andar aos papéis.

31 - Ai flores do verde pinho Que no mar Andam a boiar Dizem que Assim trovava Dinis o rei Bom poeta e Não tão bom marido Já que perdido Se achava ao ver Velidas a bailar. Roda que roda Rema que rema A vida gira Ora boda Ora trema Espada de volteio Oxalá que não fira. Saudades tenho do mar Como ele as tem da terra Ai quem me dera Bordar rendas de paz Nos lençóis da guerra. Muda que muda Avida é sempre diferente Quem apregoa novo Com ideias de velho Não gosta de ser povo teima ser relho. Matemos o estado social. Demos corda ao neo-liberal E veremos como a direita Nos leva ao endireita E de todo que não faz mal A miséria sempre amou Portugal. Ai flores do verde pinho verde.

32 - Pum Catrapum Pum... os putos brincam Aos polícias e ladrões Felizes por sonhar Que o bem Vence o mal. Crescem. Uns serão polícias Outros ladrões Talvez. Se o forem Poderemos também ver O mal ser bem E o bem ser mal E nada poderemos fazer Se nos limitarmos A encolher Talvez sorrir Ao ouvir Pum-catrapum-pum.

33 - No vozear dos cafés Dos mercados das ruas Dos transportes A indignação Larga palavrões Esmurra corações Arrasa fés Declama pecados Estoira luas Programa mortes Mas não salva Nações. Acagaça-se com o Estado. Amedronta-se com o Governo. Reverencia o Depuatdo. Arranha-se no desgoverno Mas não salva Nações. Beatiza autarcas Pedincha aos deuses Joga lotarias Aposta raspadinhas Nada sabe de Petrarca Se se vê na tê-vê Acena "adeuses" A toda a confraria Mas não tem nadinha Com que salve Nações. Ainda se enrolasse o terreiro do Paço Em papel almaço E o enfiasse Numa garrafa E o enviasse Para o mar profundo Talvez mudasse O parco do seu mundo.

34 - Perfumado O teu corpo fala De maresia. Solo amado Que nos cala Com ironia. De um lado pinho De outro carvalho Mal fica o linho Sem tanto orvalho. Do teu corpo as dunas Ofertam-ma horizontes Faltam galeras e escunas Para voar acima dos montes. Real é o que inventas De tudo o que vês e sentes Imenso Cabo das Tormentas Esperança porque mentes. nada é mais lindo Do que o teu corpo bravio Mesmo agrest é infindo E morro Se não acaricio. Nas tuas lágrimas moliceiros Ontem suados Hoje turísticos. Asas dos meus anos primeiros Tão urbanos e tão rústicos. De igual modo os rabelos Monges negros das ravinas Do velho Douro castelos Levando o vinho às rapinas. Trovando se entoa o fado Nas margens do Mondego Todo o tempo é estudado E tudo parece mais cego.E do Minho solta-se o vira Se um dia amor Voltar a Viana Quanto se quer É o que se tira Nesta malhão que não engana. Ah Lima Que o romano pensou esquecimento Galo e rima Que fez do barro Conhecimento. tejo de afrontas e desdém Levando ao mar a liberdade Que airosa como ninguém Escapou a Lisboa por realidade. Deixa o Guadiana Tornar-nos ibéricos Que a razão emana Das dores dos periféricos. Perfumado o teu corpo seduz Mil viajantes do mundo. Solo amado que nos guarda e conduz Do cume até ao fundo. Quisera deixar de te abraçar Pudera não te ter por perto Solo amado que não paro de amar Mesmo que ateu de qualquer encoberto.

35 - Há um Povo dentro de mim Diverso do Povo que me rodeia. O que transporto Ousa incêndiso Nos horizontes Desafiando Todas as crenças e amarras Inspirando Sementes novas tesouras de avenças e arras. O outro è mais morto que vivo Não fustiga Tudo o que o agride Tudo o que o rapina Tudo o que o humilha E se lhe perguntam Como está Logo logo responde Vai-se andando Como deus quer. Ai de quem se condena A títere de uma qualquer vontade Deixa de ser E acaba Faminto de Liberdade.

36 - Discreta Indiscreta Secreta A velha zorra capital Ronda Alimenta Ronda Rapina Ronda Expolia Ronda Etilizada de tanta sanha Anbiciona sugar Quase todo o sangue Da manada. E amedronta Encena cataclismos Ameaça fomes e sedes Uiva No cruzamento De todas as ruelas Montes e vales Uiva Regougando farsas Que semeiam dúvidas Na manada Estupidificada E ronda Pela trela do medo instalado A fragilização crescente Óptima para Todos os ataques Frios Virulentos Mais e mais A velha zorra capital Tem o vórtice da fome Que a não deixa parar.

37 - Dormiste bem Meu bem Interrogação Natural como um rio No velho vale do amor Ou na charneca da amizade. Minha alma sorri E em jeito de onda do mar Vai à janela Cismar o tempo E volteia Encara o meu corpo Com novo sorriso Que a manhã está livre Para me levar Onde for preciso Se ela quiser Se ela vier Deixá-la em casa É perder a asa E não saber Como voar No sopro do sonho. Será por isso Que anda tanto mármore Trauteando As ruas do Mundo?!...

domingo, 19 de setembro de 2010

11- A palavra veio de muito longe Dos confins dos tempos Transportada pela alma humana Não pode Não deve Ser vendida Nem hipotecada Nem trocada Como qualquer coisa Que as máfias disputam. Não mora em palácios Nem nas catedrais Nem nas ruas. A palavra vive Na essência humana Essa alma que nos redime Da lama que somos. Sem a palavra Seríamos apenas A aflição do gesto E não sei Se saberíamos mais Do que a agressividade.

12- Regresso Onde sorrias E te despias Regresso Com um açude No meu olhar Por tudo o que nos sufocaram Por toda a estrada Que roubaram Ao que escrevíamos Ao que pintávamos Mesmo quando Sobretudo quando Nos publicavam E nos negavam A porta aberta Para o horizonte.São os novos ditadores Ou apenas lavradores Do egoísmo sem lei. Ignorantes Mesmo quando querem Ser navegantes Dos labirintos culturais. Pensam em tudo Como mera fabricação de moeda. O que não serve Pode ser o melhor Mas não presta Porque não tilinta. Regresso Onde sorrias E te despias Regresso Com açudes No olhar.

13 - Caminhar Destino de quem vive De quem descobre A inocência De cada ser. Caminhar A impossível maresia Dos retornos A suave expectativa Das partidas A difícil clarividência Das catedrais Despidas dos tectos e das cúpulas. Caminhar Apenas um sopro ou um voo Nestes dias.

14 - Que palavras escondemos Ou se escondem Dentro de nós? Há muito de animal Que se degladia com outros Para conquistar Para manter Um qualquer lugar No grupo respectivo. Alheei-me Dessas lutas. Procuro manter a juventude Que habita o meu coração Que mora e viaja No meu cérebro. Algo que não perdoam. Outros. Todos os que nunca quiseram Viajar comigo. A maioria. E provocam. Ó velho!... riem. Se soubessem Quanta amargura escorre Do seu ar parvo Do seu riso de mastim Fugiriam deles próprios. Cheiram a podridão total E não sabem Enão sentem. Por tudo isto Agora sei porque muito negaram a luz A muito que tenho escrito. Se fosse rico Ou um qualquer mecenas!... Há demasiado oceano A exigir espaço O que pode terminar Com a presunção terráquea!...

15 - Há penugens de cagarras Nos bolsos da alma Que navegou Nas crinas atlânticas. Há poalha de vidros Nos olhos dos corpos Afogados de ciades. Há ventos de ironia e desdém Nas bocas de todos Que descem obrigados Escadas da fortuna. Há murros e socos Nas mãos iradas dos que enfrentam Doenças e males Com que a vida os atriaçoa. Há descrença no desespero Dos que veem a morte ceifar Entes queridos Que lavravam o bem. Há jardins de risos e afagos Em todos os que aceitam A vida Como bem querer. Há rotas de descoberta Em todos os que ousam Ultrapassar derrotando Cárceres dos sistemas Que nos esganam.

16 - Ah Esta saudade que trago Da liberdade que já tive E daquela outra Que mais desejei ter. Nestas ruas do mundo Em que tudo e todos Se transformam Em cruéis competições Há o esquecimento De quanta pacatez Se transforma em assassina Da natureza Homicida de almas Ladra de crenças Traficante de esperanças Mistificadora de essências Mercadora de protagonismos Covarde semeadora de joios. Quem nos sonegou Mapas dos novíssimos Caminhos da paz? Quem nos queimou As gramáticas da cultura? Quem nos rasgou os dicionários da amizade Da tolerância Entre os Povos? Urge encontrar o portal De nova e inovadora Dimensão. O que temos Já não tem sementes de sorrisos.

17 - E o rio corre Escorre Com toda a plangência Das cordas de uma guitarra Romanceando A única certeza Estamos vivos E tanto Que imprimimos Nossos passos nas areias Até que os ventos as varram E nos deixem apenas Memória Para ilustrar A voz que há-de bordar Estórias Com que imaginamos a Vida Que cumprimos Pouco a pouco Golo a golo Numa sorvência Que nem sempre dá Para saborear e dizer Se a colheita É de bom ou de menos bom ano.

18 - Chovo. Por dentro de mim. A tua ausência Rouba-me oxigénio. Quando surges Tudo se faz Para que não sonhes Ossos. Quando surges Apenas se oferta Musgo Estrelas Mar Rio. Não entendes A linguagem estranha Que a tua ausência Cria. Não entendes A tempestade que me varre Quando não falas Quando não surges. Dói-me a alma. Na tua ausência. Tu que sabes da jardinagem Do meu sorriso. Preciso de ti e não sei Como se fabricam A lua e o sol.

19 - A vida é um quase nada E o vento a jangada Que navega a tua pele Meu tempo Meu mundo Meu sonho de florescer No teu coração Além do universo Com toda a força Com toda a ternura Com todo o encanto de caber a vida Num único verso.

20 - Canto Fonte gotejante Voz Seiva Levadando a terra Mondego de mil saudades E todo um Tejo das mil cidades Que dançam em Lisboa Que prenhe de lua Anda de rua em rua Só para ouvir Fados que navegam A vida que somos A que inventamos A que amamos E odiamos E toda a outra Que desejamos. Canto Velhas tavernas Onde o anjo e o demo que somos Se abraçam Bailando toda uma noite Que penteiam Com toda a ternura Com que dois corpos Num só se tornam Sonhando Todo um mundo Sem tempo nem voz Mas que sente Com imensa fundura A vida da vida Que nos torna Uma escultura.

21 - Não posso Nem quero Aceitar Essa tua razão De virtude A escravidão A que me queres condenar Apenas quero sonhar Tentar alcançar Que a paz seja Fundo desejo Um beijo Mergulho neste mar.

22 - Revolucionário E operário Em frustração Quase perde o tino Nunca a razão neste desatino Crise em ascensão Bolor que tresanda À burla de quem manda No mundo Num País E rouba fundo Matando a raíz Do poder que detém Que um ser Não se mantém Se a terra Que o sustém Andar esfomeada Rica de nada Rota de esperança Uma vida Que não avança Um filho que olha o futuro E vê um muro Duro Difícil de abater Que o rio Que o trabalho é Tem que terbrio De ser uma só mão E agarre Toda esta corrupção E a torne construção De um mundo melhor Diferente Avançado De vez humanizado Livre de escravidão Capaz de colorir O baço de agora Que a vida é Sentimento Coração E está na hora De pôr em movimento A libertação.

23 - Não sei Se me ouvem Se me entendem Se resisto e ganho Ao egoísmo invejoso Que me tenta manietar E calar Destruindo Esta liberdade De lutar Por uma Humanidade Mais sã e clara e aberta Onde a descoberta De qualquer diferença Seja alegria E não nos vença esta razão fria Do que parece mais forte Apenas porque rouba a sorte Aos que mais se acovardam Em nome de um respeito Que nunca foi devido A quem nos desrespeita.

24 - Cinquenta e nove anos depois De ter visto a luz O mar que a vida é Ofertou todos os humores E este barco miúdo Que navega como pode E como a maré deixa Está usado demais Exausto e triste Apesar de querer Em cada dia renascer E não se render A todas as rebentações Que quase o esmagam Na balbúrdia das marés. Pais que não foram mais Que ditadores Abusadores Castradores De tudo e de nada Apenas porque sim. Mulheres que por amor Quiseram apenas devorar Limitar Domesticar aos seus desejos. Mais gente que quiz destruir Mentindo Roubando Tudo e nada Em nome de uma qualquer Algaraviada Que pouco teve de vida. Que fazer Na hora Em que tudo parece desabar? Apesar de tudo O barco frágil continua teimoso a navegar Entre o sol e a lua Contra quantos apostam Em o ver sucumbir Para de vezPoderem mentir Negando a exist~encia de quem usou A inteligência Para ajudar a florescer Em cada grão de tempo Um mais limpo amanhecer Mendigo de amor Eterno ouvinte da dor Que a rua do Mundo Não consegue conter. Junto a este Tejo Sereno e manso Que vai escorrendo até ao mar Espera-se apenas Que o verbo amar Nos revisite e reinvente Para que não deixe de navegar O peque no barco Que a vida é.

25 - "somos o esquecimento que seremo" escreveu o argentino Borges. Acabamos tecendo Pulverizando Tecendo cada sopro cada avo Do tudo Do nada Que somos mas sempre convencidos de que eternizamos Que mareamos Que somos fundamentais à vida. Nem quando semeamos Levedamos A nossa esperança O filho que julgamos A nossa garantia De continuidade. Convirá sermos crentes Para que não cresçamos Até ao esfíngico Do conhecimento.

26 - No País de todos os equívocos ( Viriato não era cavernícola Nem pasator dos Hermínios; Afonso não andou à porrada com a mãe; Henrique não teve escola náutica em Sagres; Sebastião não volta com o nevoeiro; Monarquia não era só viciosa E a república apenas virtuosa E mais E mais) Há que dizer A verdadeira crise De todas as crises É a consciência Que cada um tem Das coisas e dos seres. A maioritária Parece andar anémica. Emotiva. Demsiado sensorial. Acaba por condoer-se da vítima E a simpatizar com o arguido. Tanto que até o coroa E depois lastima-se Por voltar a ser vítima. No País de todos os equívocos A arte fulcral A arte de bam cavalgar toda a sela Como diria Duarte o esclarecido É este saber remendar Mantendo o essencial do pano Sempre imtacto e putrefacto. Safa!...Já desespera Quem vê O desfazer Do tecido. Vá. Costure-se mais um remendo... quem sabe Se à força de tanto remendar Não há-de tudo se esboroar Perfeita ilusão de espuma Que o mar oferta Para logo devorar. E depois... a lua faga Caminhos exíguos com um pouco de orvalho e hortelã.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

impressões digitais de um estranho País ( livro em construção)

1- Trinam pardais Algazarra que desperta Na árvore do sono. Sacudo Primeiras escamas do sol Titubeando dia que começa Ovo que abre Túnel que acena Luz.Excelentíssimos prostitutos & excelentíssimas prostitutas Aperaltam-se Correm Enfiam-se nos topos-de-gama Que os hão-de levar às administrações Dos latrocínio0s Autorizados pelo sistema. Além da prostituição de luxo que praticam Refinam-se na profissão alternativa Carrascos dos que produzem Tudo o que eles mercam Armados em senhores do Mundo Em senhores do lucro Que apenas lhes parafinam os genitais Para melhor pos saciar Na sua febre predadora De meros títeres Dos tiranos sem rosto Que ordenham políticos Demasiado fiéis para que não sejam Prostitutos Traidores dos Povos Que amam Com tanta devoção Que os matam em câmara lenta Para bem das Nações Dos estados Do sistema Que a todos engorda Menos aos Povos Que sobrevivem Entre feiras de vaidades & Sonhos Sempre adiados Para o amanhecer seguinte. La vie N'a pas du temps Mais la vie C'est le temps Que c'est ta vie.

2-E o rio Corre Escorre Transporta Almas inquietas Borboletas que pintam Primaveras Nos dedos sujos de terra Das crianças Enrugadas Que semeiam vidas Na vida que o rio pulsa. Incêndios lambem Montes e vales Planícies e tundras Florestas e savanas. Frutos do tempo em brasa E da mão sem crâneo. Como a ira dos rios que diluviam Terras e países de pobres Almas resignadas aos destinos Que o destino lhes escarra. No mercado diz-se que a dor A lágrima O luto São mercadorias de muito valor Lucro certo Para quem rapina a vida. O rio lembra Que a morte Não os deixa levar bagagens. Mesmo sem elas Não param de rapinar. E as dores de tanto doer Já não dóiem. E o rio lambe Estas margens Onde os corvos Saltitam em busca de girassóis.

3-Preconceitos são Portas que te fegham Na mesquinhez Da vidinha Conforme catálogo vigente Poderosas tesouras Que podam asas Para que não voes Para que não ouses Mais do que te for permitido Por quantos têm sabujado a vida Que respiramos. Preconceitos são A ignorância que cultivas Como lantejoulas de uma cultura Que nega a Cultura Essa libertação crescente Que os espertos dos lemes Temem e odeiam. A liberdade Quanto ,aior Mais em cinza e lama transformará A esperteza predadora. Preconceitos são Campos de extermínio Para o diálogo O abraço A ternura A delicada essência da vida Que um dia vencerão mesmo que seja Na raia da sobrevivência. Os teus medos são apenas As tuas grilhetas de escravo.

4 - Se os mercados Forem os donos dos Povos Andaremos a vender Almas humanas Envenenando o âmago Da vida humana. Quando um eco-sistema é envenenado Algo impostante da vida se perde. Nascemos para a luz. Somos luz Mesmo que tenhamos que troperçar nas trevas e nas sombras. Porque haveremos de querer Apagar a luz que somos?

5 - A ciência diz O coração tem memória e consciência Sensitivas. Miríades de astros encontro No teu olhar. Cometas de ternuras Disparam dos teus gestos. Danças. Com roupas de vento e aromas de anjo. Do teu regaço O regato de água Ainda pura. E bebo. Matar a sede Meu grande assassinato. Não tarda Mergulho o corpo No teu regaço. Sorrio. Luz que floresce. Abraço Mundo. Regaço Vida. Dedilhando galáxias No ocaso dos dias. Galope de cores. Trote de sentidos. De cansado Onde adormentar Meu coração?

6 - Ouve o teu útero. respira. Dilata-se o teu ventre. Tenda beduína No imenso deserto. Dizes Tenho um filho. Maravilhas-te com a pequena vida Que leveda em ti. Não sabes. Não suspeitas. És apenas o portal Poronde um novo mundo Um novo universo Há-de fluir E espantar Todos os outros Que neste circulam."Cavalinhos a correr Meninas a aprender Qual será a mais bonita Que se vai esconder?!" Cântyico dos Mundos antigos. Olha o imenso universo. Aquela? Aquela? Aquela? Porque não a tua Para que a alvorada que em ti se anuncia Surja Enigmática Como todos os futuros portais Que por nós anunciam Oceanos futuros Destas galáxias Ainda tão mesquinhas?!

7- CHIU!...Chiu!...Chiu!...Psst!...Psst!... Os grandes do Mundo Vivem Num imenso mundo alienígena Que ameaça A tua pequena bola de trapos Com que jogas a vida No terreiro da tua perplexidade. Chiu!...Chiu!...Chiu!...Psst!...Psst!...Os deuses que te impõem Já não te escutam Que nada têm a ver Com os deuses Que escutavas No clarão dos tempos.Chiu!...Chiu!...Chiu!...Psst!...Psst!... Germes Bactérias Vírus Moléculas Violam o teu corpo gastam e desgastam as tuas fortalezas Precisas de antídotos A ciência chega-te mais cara Que as velhas naus das Índias Tornas-te um peso Incomportável Os alienígenas Sorvem Mais e mais A tua seiva. Chiu!...Chiu!...Chiu!...Psst!...Psst!...Os nomes são A independ~encia dos seres Rodam em torno de ti rodopiam em torno de tudo E por tanto rolarem Acabam num vórtice A baba imensa do esquecimento Raros os que escapam Ao remoinho Das mós alienígenas !...Chiu!...Chiu!...Chiu!...,

8 - Cheiros esparsos sinais da terra húmida Sensual Que nos impregnam De claridade De asas que flutuam No imenso azul que somos!...Os vozeiros que estalam Racham quietudes São a voz da bruxa Que tenta rasgar A mansa melodia Dos movimentos!... Festa Infesta A indigesta melancolia Dos pacientes da vida E o circo Retoma O fluxo E o refluxo Da nossa pobreza Coroando-a Com toda a riqueza da nossa liberdade De sonhar.Que tropecem os cavaleiros negros!... Recuperamos a virgindade Quando nos emocionamos!...Nascemos e crescemos Para criar Melodia e harmonia...como apagaremos esta escravatura Que apenas nos desgasta e corrói Para nos aniquilar?

9 - Sete cadelas Umas novas Outras velhas e relhas Porosas de cios Raivosas de tudo o que não consomem Descarnadas pela inveja Do que farejam Ou julgam farejar No resto que as rodeia Quiseram criar matilha Aleivar Um pobre cachorro Que apenas respirava luares. Ensandeceram Despeitadas Por não entenderem Que a rejeição Nasceu de mais morderem Do que lamberem. E se o infeliz cachorro se defendia de tais sandices Não almejou mais Do que enraivar A raiva da matilha E quem o via Longínquo de tudo Tomou como certo Ser ele o veneno E não a matilha Que apenas lhes metia medo Sobretudo se tentavam Ajudar o cachorro. assim se rasgam verdades E entronizam mentiras. O cachorro acabou ermo Nos caminhos. A matilha Purulenta de rancores.

10 - O sotaque da noite Inscreveu no horizonte Uma enorme fenda Janela plena de astros de onde escorria A água mais pura Cintilante Vibrante Pura Noiva de caminhantes Vaporizando A dureza gretada Encardida ressequida recozida pelo fogo Desta terra Onde tudo parecia Estátuas presas Na melancolia Onde o vazio N~ºao se cansava De poeirar. E o meu olhar viajante Mergulhou Naquele imenso jorro Eo tempo evaporou-se E a dor emigrou E o mar voltou Num abraço de estrelas e algas Sendo eu o barco De todas as inquirições. senti-te no âmago Do sorriso E abandonei-me ao enlevo De te sentir De te cheirar e saber Que a vida se afirma No abandono No despojamento de tudo. Só por isto Não quero Não posso perder-te mesmo que o meu olhar Volte a encher-se de salinas.