sábado, 11 de dezembro de 2010

Impressões digitais de um estranho País (livro em construção) Comt.

109 - Enfeitam-se ruas onde Aumentam os sem-abrigo. Das casas e das lojas Escapulam-se vapores De risos e de calor Para as ruas onde Se multiplicam mendigos. Por todo o lado se apela à solidária doação E até há quem ponha na lapela O carimbo de tal confirmação. Todo o Mundo pede alguma coisa a Todo o Mundo. Todo o Mundo dá qualquer coisa a Todo o Mundo. Sacrifícios Ofertas de lágrimas e de risos Pão e tareia Liberdade e prisão Guerra e Paz. Se tudo o que somos Teve por berço milenar um vírus Há algo que pode estar A adoecer Como quem diz A mudar Ou não fosse estranho Tirar a um ser o sol Empurrá-lo para a chuva e o frio E depois Correr a amenizar-lhe A dor e a carência. Há muito de insolvência Nesta coisa que dá pelo nome De ser humano.

110 - Margem sul Ventre de sonhos Rampa de viagens Por entre aragens Nem sempre de mel e medronhos És a mesquita Dos cavalos alados Em viras de sereias Chão que já pouco semeias Onde se levantam outros fados Para bem e mal da nossa dita. Margem sul Senhora dos mil caminhos Pelo mundo espalhados Alcáçovas de poetas-soldados Estrelas aleitando ninhos Margem sul Dos mil caminhos.

111 - Marés à solta Nos mares bravios Pode não ter volta O homem dos rios. Deixada a terra Em recato a chama Compra-se a guerra Nos bordéis da cama. Ondas são sereias Embalo de aventura Palavras são areias Silêncios a sepultura. Quem nos dera A madrugada Que nos lera De cara lavada. Exaustos de tudo Campeões de nada Somos o entrudo Da vida peada. Tanto conquistado Neste mar revolto Agora amarrotado Pelo polvo solto. Volta a servidão Perde a liberdade Canta a opressão Hinos de grade. E o vento mudou E o tempo vai mudando O cravo murchou No medo que nos vai tomando. Povo de tudo esquecido Incensas quem te trai Quando serás de novo erguido Neste mundo que treme e cai?!...

112 - Dedilho auroras Com os pés doridos De tanto caminho Rua frias a desoras Apurados sentidos No mar do verde pinho. Lágrimas são salinas Amantes do sol da manhã Trombeta do novo dia Asas sobre as campinas Pão de mel e romã Gerando nova alegria. Preso és meu irmão Náufrago da ambição Soldado do egoísmo Lava esse teu coração De tanta podridão Filha do narcisismo. Matar o servilismo É destruir algozes De toda a liberdade Amar é todo um sismo Que nos ergue as vozes Contra toda a falsidade.

113 - Mero sopro de vida Somos um dedo de ilusão Folha planando no vento Tão cedo é subida Tão cedo se vê no chão No arado do pensamento. Temos muito hoje Amanhã somos mendigos Ou até sem abrigo Tudo chega tudo foje Entre amigos e inimigos Raro é haver um amigo. Por tudo isto Não se entende o desdém Que mostra o poder Que até insisto Nada é de ninguém E tudo de cada ser.

114 - Com tanto corte Falência Insolvência Fusão Há todo um sem norte Erguendo escravidão. Há todo um sistema Que deserta Da vida aberta E esquece Todo um tema Social que desaparece. Há vida paralela No seio desta gente Que se diz indigente E trama Todo um País que se estatela Em chama. E os velhos vampiros Esfaimados Vêm apressados Pedir mão solidária A todos os suspiros Da pobreza vária. Dar do nada que nos resta É obrigação De cidadão Pois claro Já que não se desinfesta Da rataria este solo raro. É urgente Reerguer o amanhecer Da liberdade Neste continente Da desigualdade.

115 - Não há liberdade Sem dignidade Se cortam esta Aquela jaz diminuída E em tudo o que resta Mais mísera se torna a vida. Para haver liberdade de expressão É preciso haver Liberdade de consciência Total transparência No que é suposto ser Liberdade de opinião. No mundo há Dois modos de reprimir Pelo lado político Onde não falta a prisão Pelo lado económico Onde se ordena a diminuição Dos salários e logo a seguir Das reghras do trabalho E depois exigir A cega obediência Neutralizando a consciência Com doses maciças de receio A que se segue o medo Inestimável recreio Do capital do enredo.

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