domingo, 31 de outubro de 2010

Impressões digitais de um estranho País (livro em construção) Comt.

74 - A lua cheia já passou Numa azáfama de pensageira. Namorou mas não cativou Que graça é ser brejeira. Esperar é desespero Deixar-se surpreender É aventura Por ti espero e nunca espero A sumptuosidade de viver Uma loucura. Amar é ser livre e cativo Disponível ao momento Ser simples humilde criativo Em cada acto e pensamento. Nada é tudo sendo nada Ninguém é dono de um ser Encontro é dádiva esperada Em cada noite futuro amanhecer. Amar é sentir a pulsação Mesmo longe estar dentro e perto Sentir e saber o coração Que pulsa e pensa o encoberto. Adoro o teu corpo e os cheiros Do ser que vive dentro do ser Que me torna pensageiro Nesta realidade de acontecer.

75 - Querem que vá por ali Mas não hei-de ir senão por aqui. O velho Régio Não parecia Mas revoltava-se E teimava Em não ser um pau-mandado Da velha escória lusa. Hoje quantos terão dessa fibra? Dizem sermos um País oceânico. Quem não provou do sal marinho Quem não sofreu sulcos dos cordames Quem não viveu dramas de naufrágios Será capaz De ter de tais fibras? Os cavaleiros da nossa desgraça Litigam com arroubos De namoros de rua. Por mais á E menos bê Teremos todos o destino O fado Que eles dedilham. Esfacelam-se a demonstrar Não haver alternativa. Esquecem-se que somos um País de corridas de toiros. Ao fim de tanto Nos obrigarem a ir por aqui Porque não haveremos de ir por ali? Ah velho Régio o gozo que dá Optar pelo inverosímel?!

76 - Amor Que desejo a meu lado Amor pleno de liberdade Não me deixes muralhado Queimando esperança Em óleo de ansiedade.Nesta estrada tudo é tardança Por mais liças que tenha e persiga Que fazer para ser resgatado Desta arena que me fustiga?! Amor que desenho numa tela Onde se multiplica a solidão Amor que desejo estrela A anunciar ressurreição Não me condenes ao deserto De todo um tempo mais que hostil Menos longe e mais perto Há muito de insurreição Que deseja semear Um novo Abril Em hora do ronco do mar. Amor que quero e espero Nesta fome de abraço e de beijos É pela dor que me supero Com o sangue quente do desejo.

77 - Sarça ardente Primeiro espanto Revelação Dessa voz diferente Profundo canto Inspiração. Memória antiga Que transportamos Por testemunho Do que nos instiga Ao que amamos Vida em rascunho. Criador-criação Tempo-consciência Esperança de melhor Acto em coração Riso-transparência Dura vida em amor. Barco em asas Anjo que nos guarda Indizível amizade Respirar em brasa Inocência que brada Tudo é liberdade. Galáxias-oceanos Planetas-aldeias Bocejos-eternidade Mãos francas que damos Para vencer sereias Que escondem tempestades. Somos eco do profundo Grito do movimento Que acha o desconhecido Eterno mundo do mundo Que dizemos pensamento Sangue-vértebra Do esclarecido.

78 - De cada vez Que se abre uma porta Outra logo nos desafia Nada é de vez Nada se importa Com o inseguro Que se nos cria.Sonhos são esboços Do que imaginamos Construir e ser verdade Podem ser poços Onde com sede Nos afogamos Sem que se solte liberdade.Vamos ao sabor Das nossas ilusões Até que os olhos se cerrem Carregados de dor E poucos corações Até que nos desterrem. Pétala a pétala a flor É o momento da vida Respirado e bem suado Se lograr amor Terá renascida A vida de cada passo dado.

Impressões digitais de um estranho País (livro em construção) Comt.

70 - TEMPO: combóio que não pára Nesta linha do respirar. Quando era a vapor A sua magreza Deixava-nos saborear melhor A vida que nos enleava. A diesel As coisas começaram a ser mais agitadas Mesmo assim Ríamos Prendíamo-nos Aos novos sabores e cheiros Que a vida nos ofertava.Depois electrificaram-no. Alterou-se o registo. Louco Cada vez mais louco Já nem resfolga E cada vez mais É apenas um traço Que nos leva e traz A velocidades inauditas. No seu bojo Tudo o que é externo É sombra que de nós foge Que não sabemos de metas Nesta corrida De a-ver-o-que-acontece. Valerá a pena Tanta velocidade Até à perca do fôlego?!...

71 - Onde estamos Não estamos Aqui ou Em qualquer lugar Somos barro Com sabor a mar Noite com vontade De madrugada Com quem lava o sarro No rio da Liberdade E todo o passado É nada Ante o que se pode construir. Mas o porvir É mais do que terra É mais do que água Sem o saber ele enmcerra O despir de muita mágoa Que nos tem cosido Todo este tecido Com nome de Humanidade.Temos que ser Mais espirituais Menos presos a bens materiais Para que se cumpra a liberdade Floresça a inteligência Em toda a sua transparência De ser apenas e só verdade.

72 - A elite nacional Está em festa: adora cavalgar. Sela de austeridade Sobre o eterno Zé-Povinho.Corta-lhe mais e mais a ração. Arreata forte Para diminuir a liberdade Não lhe vão passar ideias De galopar à tripa-forra.Para bem da Nação Há também que reconduzir O impoluto O asceta Da bizarra economia Que só dá bom-dia À banca de Gomorra.Cada vez mais Há que extorquir. Dá jeito que o Zé-Povo Seja bruto Que regeite greves gerais E que nem sinta as veias De tanto ter que bulir Para que possa luzir A nata desta velha Nação Essa tal Que sempre fez do rico um ladrão E do pobre pessoa de bem Apesar de dizer o contrário E o Zé-Povinho Muito esquecido do manguito Ser tão ceguinho Que vai ficando sem grito E ainda aplaude e vota Na eminente bancarrota Em que essa fidalguia burguesa Transformou a sua mesa. Quem nos absolvirá De tanta fraqueza?

73 - Sitiados Estamos todos Neste redondel Da vida que cumprimos Por nosso erros Este gostar de viver E não dar desterros Aos que nos apressam o morrer. Abraços dados A tudo e a rodos Deu-nos a vida de cordel Que não assumimos. Somos um Povo Que gosta de pastores E de balões de festa E mesmo não sendo novo Bloqueia-se de amores Por qualquer ilusão indigesta.Nada de chorar. Morrer é apenas navegar Num outro oceano Com tanto ou mais engano.

Impressões digitais de um estranho País (livro em construção) Comt.

66 - SOLAR: só lar:sol ar. Só o lar Nos aquece No dofícil da borrasca. Quem nunca o teve Cria um Com todo o desejo Do que não teve.Quem o não tem Vê menos abrigo E pode ter frio Por melhor causa de morte. Sol e ar: o necessário Para que a vida aconteça. Solar deveria Ser O leme de quem ordena As rotas Da geografia quotidiana. Nem o Rei-Sol Fez jus ao cognome. Brilhou e brilham. Nunca de forma solar. Se assim o fizessem Não haveria filhos e enteados. Apenas irmãos. Não acham?!...

67 - ÁGUA: mágoa nossa Raíz de alma Início de aventura Estrutura Do que somos Frágua De onde o voo Se imagina Se projecta Além das sombras Que nos olvidam.Água Virgem nossa mãe Que tanto desperdiçamos E envenenamos Com toda a displicência Cartaz da nossa negligência Em estridência Quanto ao que ora temos: medo de não chegar De poder ser raíz De guerras monstruosas Que a potável Está a minguar a minguar A MINGUAR E a vida não suporta A sua ausência... sobretudo A nossa vida é claro!...

68 - Para cúmulo do descaro Vem o ministro das finanças dizer Que podemos perder a independência nacional Se o seu orçamento Lesivo do Estado Não for aprovado. De que independência se fala? Embora não assumida A Comunidade Europeia é Federação de Estados. Dela surgem todas as normas. Somos independentes? Míopes ou asnos? O ministro enloucou? Atraso mental? Por favor: não nos rebaixem mais Do que já estamos Por mercê da nossa própria estupidez Que permitiu Esta cáfila de abecenragens. Deem-lhe o colete de forças E levem-no a banhos ao Júlio de Matos.

69 - Neste País Em que o devedor Mesmo que pague parte do que deve Passa por criminoso E dissoluto devedor Sem que se considere O menos que se lhe tira Sem já falar do máximo E se lhe exige o mesmo cumprimento Como se recebesse o justo E não descontasse o injusto... somos todos criminosos Menos quem tal ordena Que de serventuários se fizeram Donos Pelo deboche em que se transfiguraram Mesmo que pensem que são puros...rapinantes!...

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Impressões digitais de um estranho País (livro em construção) Comt.

63 - Na roda do fogo Deste andar na vida Há um larvar encanto Que nos treme e maravilha. Dizer até logo É ter chegada na partida Penteando um canto Barco que desvenda a ilha. Que novas há nos teus olhos Quando voltas e me visitas Com tanta e toda esta ternura De um cais que me segura e abriga?!... Há flores cardos e abrolhos Pedras soltas frases ditas Momentos de aventura Onde apenas cabe mão amiga.

64 - Somos todos pessoas de bem Dizem os que espoliam os Povos de tudo. Somos muito honestos Pragmáticos pelo bem empresarial Dizem os que decretam Salários baixos e despedimentos A bem da competição. Somos muito esforçados na defesa dos Países Dos ataques dos mercados Dizem os que autorizam a asfixia dos seus Povos. Será que os manuais da criminologia Estão consentâneos Com o mundo de hoje Ou este mundo é mero expectante Do descaro total?!...

65 - Tudo o que de bom fores destruindo Ou consentindo No seu desmantelamento Dificilmente o verás ressurgir Do caos gerado pela destruição.

sábado, 16 de outubro de 2010

Impressões digitais de um estranho País (livro em construção) Comt.

61 -Tange o teu violão Alma serena Desta água que nos lava De toda a mágoa Neste coração Soprador de avena No cântico De uma praça maior Onde os sorrisos Florescem pessoas Que vêm do longe Famintas de amor. Aqui se encontram Aqui se lavam De todo o pavor Que as fez virar costas Aos seus servidores Que se proclamaram senhores Para os assaltar E humilhar. Que serão eles Sem estas pessoas? Loucos que se esganam No seu próprio labirinto. Urge virar costas Aos que nos tramam a vida.

62 - Quem trabalha é Trabalhador. Porque será que trabalhador é Quem trabalha a dor?!...Conceitos!... Cada profissão é Uma arte Uma especialização. Uma profissão Nunca poderá fazer de alguém Dono de outrém. Porque será Que certas profissões Julgam-se senhorios dos outros?...Absurdos!... Entre estes conceitos e absurdos Medeia o tempo de liça Em vez de um tempo de encontro. O problema É que o tempo de liça É a fulgurância Abundante Da estupidez Que ainda por cima É ceguinha de todo !... Chiça!...

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Impressões digitais de um estranho País (livro em construção) Comt.

55 - Transformação: Para lá da formação. Algo que ultrapassa O existente. O que é. Será este O tempo que respiramos? Pela nova consciência ambiental Pela nova consciência científica Pela nova consciência cultural Pelo novo saber tecnológico Há muito de transformista. Tudo o mais é A velha rábula do Naufrágio: Todos sabem que vão cair ao mar.Uns vão ter lugar nas balsas Outros nem tanto. Uns quantos Tentam levar o máximo das riquezas Mesmo que comprometam A sua salvação E a dos outros.Seja como for A vida tem destas coisas. O certo é que o novo Nada tem a ver com o velho E neste entretanto Novos e velhos Amargam o pão e a cama De cada dia Mas não param A transformação.

56 - O mundo Em que nos formataram Está a desfazer-se. Já não existe. Já Camões cantava: Todo o mundo é feito de mudança... Hoje mais célere Do que antanho. A mesma economia A mesma justiça A mesma medicina Entre outros Já não detêm respostas Para o novo que aí está. A democracia Exige a democratização De todos os sectores do conhecimento. Impede o lucro por inteiro Nas arcas de alguns. Exige a mobilização de cada indivíduo Para o êxito comum. Tudo isto exige um humano novo. Menos preconceito. Mais clarividente. Mais culto Na diversidade que a sabedoria é. Mais tolerante. Mais ponderado. Sobretudo: uma humanidade que não se dispute Para que possa disputar A vida que sendo finita Deverá ser preservada Acarinhada Para que seja menos finita. E porque ninguém é dono de nada Sendo todos donos de tudo Têm direito Ao melhor da vida. E este melhor Será por acaso e tão só Questões materiais? O excesso de materialismo Não adoeceu o mundo Que se asfixia em crises sucessivas? Não foi a ganância Quase infinita De alguns Que nos está a cilindrar a todos? Se o povo anónimo Se levanta em protesto Não será para pôr em evidência e cobro a tudo isto? Quem somos O que queremos Para onde vamos?

57 - Os predadores não desarmam. Mesmo que não aboquem Dilaceram Rasgam Pelo prazer que têm Em destruir Quem lhes faz frente. Silêncio A arma dos inocentes. Se o silêncio convergir E se tornar rio E se transformar em mar-oceano Os predadores Não temem? França converge em greves sucessivas Indeterminadas nos prazos. Jovens entendem a luta sénior E cerram fileiras. Os predadores não tremem? Neste Portugal em ocaso Onde estão as forças Deste silêncio que marcha Farto de ser Espezinhado Nunca ouvido Com carícias eventuais de mero interesse? É urgente acordar. É urgente erguer o silêncio Que tanto tem hesitado E nunca melhorado. É urgente Mostrar a vontade de erguer de vez A liberdade. Com toda a dignidade Que o silêncio é capaz de assumir: Levantar um muro de gente E escrever Com aparo de multidão Este berro Este grito: BASTA!

58 - Canção à vida No Chile dos mineiros. Soterrados na mina. Dois meses. Trinta e um homens. A terra libertou-os Pela teimosia do mundo De todos. Canção à vida Prova de que a humanidade é Uma família E que só se salva Quando todos dão as mãos Unindo vontades Almejando cada propósito comum. Guerras Invejas Ambições Egoísmos Ante esta canção à vida São a evidência Da estupidez. Cantemos Como no Chile dos mineiros SEMPRE!...

59 - Amar: para o mar. Para o ventre da vida. Para o âmago da vida da Vida. Doação. Pela disponibilidade Da aceitação Do encantamento Da crença Do querer. Amar um ser É pouco sendo muito. Amar tudo o que a vida é É todo Sideral. Amar a multiplicação É dádiva em aceitação. Amar a criação é Sincronização perfeita Caminho Para a simbiose plasmática Com o todo sideral. Por enquanto Somos mera vaidade Da insignificância.

60 - Senhor Povo: Que chamais a quem rouba A quem extorque O que pode e o que não pode A outrém Para benefício próprio E de seus amos ou amigos?... Criminosos?...Elevais à justiça?... Porque esperais Ante quem vos expolia de tudo E até da alma?...

domingo, 10 de outubro de 2010

Impressões digitais de um estranho País (livro em construção) Comt.

50 - Pedem-nos Responsabilidade. Solidariedade. Cultura. E vai de roda. Diferentes. Amigos. Tolerantes. Há que dar a volta A tanto absurdo. E vai de roda. Correntes. Inimigos. Feirantes. Farsantes. Tudo o que vê milagres No cavalgar dos Povos Pede aos Povos O que lhe sacou.Para evitar naufrágios. Dizem com o ar mais beatífico possível. E vai de roda. E vira que vira e torna a virar E acaba tudo num grande Enormissimo malhão. Freme o coração Com tanto volteio De incerteza. E o mar Será esteio De futura riqueza ?!...

51 - Das escamas piscícolas Há quem faça flores. Das escamas sáurias Há quem faça sapatos malas cintos. Que faremos da pele hominídea Que os governos tanto se esmeram em tirar ?!...

52 - Chiu!... Nós os banqueiros Nós os economistas Nós os gestores Nós os que governamos o mundo Dos negócios Da política Das religiões Declaramos: Inventámos um mundo permissivo Demos uma espiral de fortuna A muitos E tudo isto acabou Teia-de-aranha Para quase todos. Chiu!... Agora Solicitamnos A vossa solidariedade Compreensão Resignação Para que useis a tanga No corpo e na vida E que muito bem vos fica Para que possamos endireitar Todo este caos Caldo suculento Dos ricos dos ricos E concerteza Que um dia destes Vos mostraremos Um mundo melhor O dos resplandecentes Sempre servidos Pelos baços-cinzentos. Crede: bom será para todos Que este seja o futuro De contrário Nada terá piada Como facilmente compreendereis !... Chiu!...

53 - Ah Como rolam Rebolam Nas suas ansiedades Os escaravelhos!... Como todos Os que pisam passeios Asfaltos Escadas De pedra madeira ou rolantes Por dentro do chão Por cima do solo Dentro e fora dos edifícios Longe e perto das nuvens Andam Param Correm Com fome e sem ela Absortos de fêmeas e de machos Crentes e descrentes De deuses e de santos Mendigos de tudo Pedintes de nada Mais governados do que Governadores Menos livres Mais escravos Das banmcas e dos patrões Plenos de raivas Com parcas chamas Para romper Com as cangas da Sereníssima Ordem Que os vampiros mantêm Para que não lhes seque O sangue vivo Das manadas. Ah O bom de ser escravo É admirar o seu senhor!...

54 - Amoreira Amor na eira Livro por abrir Ainda Que muito venha ferir Para florir Para sucumbir Para dormir Para sorrir Meu deus Como um adeus Bem visto é Um ir para deus Segundo o tear ancestral Que trabalha em Portugal Para que se não diga Que a voz amiga Pode também Ser inimiga Aqui e além Onde tudo se rediga.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Impressões Digitais de um estranho País ( cont.)

38 - Um espirro Ecoa na rua. Um cão Chora ausência. Um esbirro Algures amua Por quase não ter assistência. Não nos falta demência No decidir de cada momento. Pouca é a transparência No esgrimir do pensamento. Assim vai Assim anda Assim roda Assim cai Vexas politiqueiras Alta roda Baixa roda Merda para tanta boda Que tresanda A farras batoteiras. Quem foi que disse Quem foi que fez Tanta aldrabice Em português ?!... Um saleiro de brincar Um pimenteiro de fingir... Tudo pode melhorar Se o Povo não dormir.

39 -Somos a música das ruas Nesta pauta do trabalho Sete sóis e sete luas Para pão e agasalho. Há medo nos labirintos dos crâneos. Uns querem tudo Outros batalham Por quase nada. Dar dinheiro aos povos Abre janelas de esperança. Quem isto não quer Apenas entende sofreguidão Tubarão que de tanto explorar Não vê Quanto solo está a secar.

40 - Tudo parece desabar Neste Portugal a olhar Todo um horizonte Prenhe de marés e de sal. A vida para uns a minguar Para outros a ponte Para um tempo de carnaval. Há todo um tempo de trincheira.Quem é capaz de o cumprir? Tu que pareces andar a dormir Fazes do teu sangue a bandeira? Será que queremos viver Ou apenas sobreviver? Seremos capazes de renascer Arrancando o joio de tudo O que somos?

41 - Acende a luz No pleno do corpo De tanta escuridão. Semeia de verde O que agora se atulha De cimento. Na vida nada se perde Tudo se transforma Com muita bulha E estouvamento. Porém tudo nos conduz Para um pulsar simples De pequeno coração!...

42 - Rio de estrelas Leito de ervas Sopros de alecrim E de rosas Caminhos de aves Caminhos de fontes Auroras de chilreios Silêncios e volteios Ígneas borboletas Rasgando nos montes Fábulas amorosas Águas e suas caves Catedrais belas Prenhes de cores Geniais servas De todas as pontes Tempo de pulsar De ouvir e de olhar E resplandecer Ouvindo o mar A amanhecer Que tudo o mais Ficou no olvido Pó de temporais Das coisas irracionais Loucas e sem sentido Que quase nos fulminaram E tanto conjuraram Para destruir O que pensavam Construir. ( Já chegámos Ou vamos a caminho?).

43 - Não. Não vamos a caminho De milagres. Caminhamos Para fogueiras. É tempo de vinho. Bebido entre rochas Ao clamor do mar Em Sagres. Destemperamos bandeiras. Sofremos o arfar Das mil contendas. Saudades Das mouras tendas E suas liberdades. Há um grito de guerra No ar Escasseia terra Para amar. Abunda terra Para odiar. Calafetados De silâncios. Gretados Por mil salinas. Há que levantar Corcéis. Divagar Entre bordéis. Não pensar mais. Há que decidir. Não deixar o Povo dormir. Desfraldar um novo porvir. Assassinar a doença Que nos mina. Acabar com a malquerença Que nos fina.

44 - Encostar Povos às paredes Não é tempo novo Antes grilhetas e redes. Povos São ovos De liberdade. De dignidade. De crenças-sorrisos. De balbúrdias e sisos Onde definhar É proibido. Se nos estão a minguar Haverá que dar lugar Ao recém-nascido. E das mil fogueiras Onde nos queimam a vida Levantemos bandeiras De esperança nascida. Encostemos à parede Quantos nos roubam E atrofiam. Haja uma voz Num só corpo Um Povo Todos nós Uma vontade De ter de novo liberdade De inventar Um caminho Que mesmo sendo mar Possa ser vinho De um amor Tão solidário Que dê ao suor O signo comunitário Que erga a dignidade De quantos desejam Humanidade No simples acto de viver.

45 - O tempo do nosso anonimato Transforma-se em ultimato À nossa simplicidade À nossa humildade A todo o nosso desassossego Em que este ter Ou não ter emprego Nos faz perecer Mais do que alvorecer. Ainda me pedes Para ter saudade Do teu corpo E dou por ela Submersa Na ansiedade Controversa Com que saudamos Os dias que suportamos. Para onde emigraram As nossas triviais alegrias ?

46 - Sentado No muro da brisa Trauteando o luar A serpente do rio Rastejando Ao fundo Murmurejando Até ao mar Cismo Na vida possível Interdita Pelo governo Que se esmiufra A explicar Que nos esgana O quotidiano Para nosso bem E da Nação E o quotidiano A ficar sem pulsação E a malta a temer O pior do pior Que já tem E a malta a tremer Mesmo que refile E mostre que está rija E luta Pela esperança De travar a desesperança E pensar Que era melhor Qualquer coisa Com mais amor Para com quantos Mais sofrem Agruras de vida E por arrasto Para todos os outros Menos é claro Para os cleptómanos Que governam Ou querem governar As nossas vidas Já tão puídas E esmiufradas Esqueléticas Tanta é a aneroxia Com que nos banham E nos apanham Com falas e redes de receio Até que nos mijamos Pela falta de ar Nas algibeiras E que ainda não chega E querem sacar mais Para bem da Nação Para nosso bem E a estranja goste de nós E nem temem Que a malta vá para a rua Gritar Como cantava o Zeca Porque nos creem pacíficos Compreensivos Parvos diremos nóa. Será assim ou Resolveremos ser gente a sério?

47 - Nos cem anos republicanos Recordo falas da bisavó A aristocrata que se viu De casa cercada Pela tropa monárquica E até lhes deu de comer Que o marido era republicano E clandestino Sem que ela lhesoubesse Paradeiro ou destino Até que mataram o rei E o belo do Luís Filipe Príncipe herdeiro E a casa ficou sem cerco E a república foi proclamada E o marido voltou E ela Sempre discreta Assistiu às vinganças Dos vencedores Até que o marido partiu de novo Para negócios que tin ha No brasil republicano E quando voltou Trouxe doença rara Que ela cuidou Até que ele partiu E ela viúva se viu Com dois filhos entroncados E nunca mais casou Assistindo apenas Ao fazer e desfazer da vida e dos sonhos Do seu País.

48 - Não digas sonho Em tempo de pesadelo Sonha apenas Para que o teu dia Seja um pouco mais belo.

49 - Imensas As candeias Imensos Os mestres Se pensas Hasteias Consensos Terrestres.