segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Impressões Digitais de um estranho País ( cont.)

38 - Um espirro Ecoa na rua. Um cão Chora ausência. Um esbirro Algures amua Por quase não ter assistência. Não nos falta demência No decidir de cada momento. Pouca é a transparência No esgrimir do pensamento. Assim vai Assim anda Assim roda Assim cai Vexas politiqueiras Alta roda Baixa roda Merda para tanta boda Que tresanda A farras batoteiras. Quem foi que disse Quem foi que fez Tanta aldrabice Em português ?!... Um saleiro de brincar Um pimenteiro de fingir... Tudo pode melhorar Se o Povo não dormir.

39 -Somos a música das ruas Nesta pauta do trabalho Sete sóis e sete luas Para pão e agasalho. Há medo nos labirintos dos crâneos. Uns querem tudo Outros batalham Por quase nada. Dar dinheiro aos povos Abre janelas de esperança. Quem isto não quer Apenas entende sofreguidão Tubarão que de tanto explorar Não vê Quanto solo está a secar.

40 - Tudo parece desabar Neste Portugal a olhar Todo um horizonte Prenhe de marés e de sal. A vida para uns a minguar Para outros a ponte Para um tempo de carnaval. Há todo um tempo de trincheira.Quem é capaz de o cumprir? Tu que pareces andar a dormir Fazes do teu sangue a bandeira? Será que queremos viver Ou apenas sobreviver? Seremos capazes de renascer Arrancando o joio de tudo O que somos?

41 - Acende a luz No pleno do corpo De tanta escuridão. Semeia de verde O que agora se atulha De cimento. Na vida nada se perde Tudo se transforma Com muita bulha E estouvamento. Porém tudo nos conduz Para um pulsar simples De pequeno coração!...

42 - Rio de estrelas Leito de ervas Sopros de alecrim E de rosas Caminhos de aves Caminhos de fontes Auroras de chilreios Silêncios e volteios Ígneas borboletas Rasgando nos montes Fábulas amorosas Águas e suas caves Catedrais belas Prenhes de cores Geniais servas De todas as pontes Tempo de pulsar De ouvir e de olhar E resplandecer Ouvindo o mar A amanhecer Que tudo o mais Ficou no olvido Pó de temporais Das coisas irracionais Loucas e sem sentido Que quase nos fulminaram E tanto conjuraram Para destruir O que pensavam Construir. ( Já chegámos Ou vamos a caminho?).

43 - Não. Não vamos a caminho De milagres. Caminhamos Para fogueiras. É tempo de vinho. Bebido entre rochas Ao clamor do mar Em Sagres. Destemperamos bandeiras. Sofremos o arfar Das mil contendas. Saudades Das mouras tendas E suas liberdades. Há um grito de guerra No ar Escasseia terra Para amar. Abunda terra Para odiar. Calafetados De silâncios. Gretados Por mil salinas. Há que levantar Corcéis. Divagar Entre bordéis. Não pensar mais. Há que decidir. Não deixar o Povo dormir. Desfraldar um novo porvir. Assassinar a doença Que nos mina. Acabar com a malquerença Que nos fina.

44 - Encostar Povos às paredes Não é tempo novo Antes grilhetas e redes. Povos São ovos De liberdade. De dignidade. De crenças-sorrisos. De balbúrdias e sisos Onde definhar É proibido. Se nos estão a minguar Haverá que dar lugar Ao recém-nascido. E das mil fogueiras Onde nos queimam a vida Levantemos bandeiras De esperança nascida. Encostemos à parede Quantos nos roubam E atrofiam. Haja uma voz Num só corpo Um Povo Todos nós Uma vontade De ter de novo liberdade De inventar Um caminho Que mesmo sendo mar Possa ser vinho De um amor Tão solidário Que dê ao suor O signo comunitário Que erga a dignidade De quantos desejam Humanidade No simples acto de viver.

45 - O tempo do nosso anonimato Transforma-se em ultimato À nossa simplicidade À nossa humildade A todo o nosso desassossego Em que este ter Ou não ter emprego Nos faz perecer Mais do que alvorecer. Ainda me pedes Para ter saudade Do teu corpo E dou por ela Submersa Na ansiedade Controversa Com que saudamos Os dias que suportamos. Para onde emigraram As nossas triviais alegrias ?

46 - Sentado No muro da brisa Trauteando o luar A serpente do rio Rastejando Ao fundo Murmurejando Até ao mar Cismo Na vida possível Interdita Pelo governo Que se esmiufra A explicar Que nos esgana O quotidiano Para nosso bem E da Nação E o quotidiano A ficar sem pulsação E a malta a temer O pior do pior Que já tem E a malta a tremer Mesmo que refile E mostre que está rija E luta Pela esperança De travar a desesperança E pensar Que era melhor Qualquer coisa Com mais amor Para com quantos Mais sofrem Agruras de vida E por arrasto Para todos os outros Menos é claro Para os cleptómanos Que governam Ou querem governar As nossas vidas Já tão puídas E esmiufradas Esqueléticas Tanta é a aneroxia Com que nos banham E nos apanham Com falas e redes de receio Até que nos mijamos Pela falta de ar Nas algibeiras E que ainda não chega E querem sacar mais Para bem da Nação Para nosso bem E a estranja goste de nós E nem temem Que a malta vá para a rua Gritar Como cantava o Zeca Porque nos creem pacíficos Compreensivos Parvos diremos nóa. Será assim ou Resolveremos ser gente a sério?

47 - Nos cem anos republicanos Recordo falas da bisavó A aristocrata que se viu De casa cercada Pela tropa monárquica E até lhes deu de comer Que o marido era republicano E clandestino Sem que ela lhesoubesse Paradeiro ou destino Até que mataram o rei E o belo do Luís Filipe Príncipe herdeiro E a casa ficou sem cerco E a república foi proclamada E o marido voltou E ela Sempre discreta Assistiu às vinganças Dos vencedores Até que o marido partiu de novo Para negócios que tin ha No brasil republicano E quando voltou Trouxe doença rara Que ela cuidou Até que ele partiu E ela viúva se viu Com dois filhos entroncados E nunca mais casou Assistindo apenas Ao fazer e desfazer da vida e dos sonhos Do seu País.

48 - Não digas sonho Em tempo de pesadelo Sonha apenas Para que o teu dia Seja um pouco mais belo.

49 - Imensas As candeias Imensos Os mestres Se pensas Hasteias Consensos Terrestres.

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