domingo, 31 de outubro de 2010

Impressões digitais de um estranho País (livro em construção) Comt.

70 - TEMPO: combóio que não pára Nesta linha do respirar. Quando era a vapor A sua magreza Deixava-nos saborear melhor A vida que nos enleava. A diesel As coisas começaram a ser mais agitadas Mesmo assim Ríamos Prendíamo-nos Aos novos sabores e cheiros Que a vida nos ofertava.Depois electrificaram-no. Alterou-se o registo. Louco Cada vez mais louco Já nem resfolga E cada vez mais É apenas um traço Que nos leva e traz A velocidades inauditas. No seu bojo Tudo o que é externo É sombra que de nós foge Que não sabemos de metas Nesta corrida De a-ver-o-que-acontece. Valerá a pena Tanta velocidade Até à perca do fôlego?!...

71 - Onde estamos Não estamos Aqui ou Em qualquer lugar Somos barro Com sabor a mar Noite com vontade De madrugada Com quem lava o sarro No rio da Liberdade E todo o passado É nada Ante o que se pode construir. Mas o porvir É mais do que terra É mais do que água Sem o saber ele enmcerra O despir de muita mágoa Que nos tem cosido Todo este tecido Com nome de Humanidade.Temos que ser Mais espirituais Menos presos a bens materiais Para que se cumpra a liberdade Floresça a inteligência Em toda a sua transparência De ser apenas e só verdade.

72 - A elite nacional Está em festa: adora cavalgar. Sela de austeridade Sobre o eterno Zé-Povinho.Corta-lhe mais e mais a ração. Arreata forte Para diminuir a liberdade Não lhe vão passar ideias De galopar à tripa-forra.Para bem da Nação Há também que reconduzir O impoluto O asceta Da bizarra economia Que só dá bom-dia À banca de Gomorra.Cada vez mais Há que extorquir. Dá jeito que o Zé-Povo Seja bruto Que regeite greves gerais E que nem sinta as veias De tanto ter que bulir Para que possa luzir A nata desta velha Nação Essa tal Que sempre fez do rico um ladrão E do pobre pessoa de bem Apesar de dizer o contrário E o Zé-Povinho Muito esquecido do manguito Ser tão ceguinho Que vai ficando sem grito E ainda aplaude e vota Na eminente bancarrota Em que essa fidalguia burguesa Transformou a sua mesa. Quem nos absolvirá De tanta fraqueza?

73 - Sitiados Estamos todos Neste redondel Da vida que cumprimos Por nosso erros Este gostar de viver E não dar desterros Aos que nos apressam o morrer. Abraços dados A tudo e a rodos Deu-nos a vida de cordel Que não assumimos. Somos um Povo Que gosta de pastores E de balões de festa E mesmo não sendo novo Bloqueia-se de amores Por qualquer ilusão indigesta.Nada de chorar. Morrer é apenas navegar Num outro oceano Com tanto ou mais engano.

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