sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Impressões digitais de um estranho País ( cont.)

98 - Em meio da noite Um rosto caminha Com uma rosa no peito Aberto à chuva Aberto à lua Quase fonte plangente A voz sussurra La la-la La La Lalala... Diz quem sabe Que volta da manifestação Que houve na capital do ódio Contra tudo o que Espolia Enfraquece Agoniza O ser humano Contra tudo o que Desassossega Angustia Massacra O sereno espírito Das Nações. Diz quem viu Que tinha na face Um pouco de lágrima Que lhe voou Do olhar magoado E mesmo assim Leve Levemente Sorria Com a placidez dos cisnes. Para onde foi Não o sabemos Mas há qualquer coisa Que me sussurra Que se oculta Dentro de mim Dentro de ti Dentro de nós.

99 - Exausto canto Todo um pranto De partir Nesta estrada Onde tudo é nada E muito sentir. Da terra ao mar Um céu grande e voar Para sorrir Nesta contenda Em que o real vira lenda De fugir. Em cada ser um olhar Orvalho de beijar E de ouvir Marulho de águas Combate de mágoas Uivo a latir. Gente que marcha e avança Sem perder esperança De sorrir Deitando borda fora Tudo que mal faz agora E construir Tempo novo Querer de um Povo A esgrimir Lua-cheia de amor Sangue força e suor Levantar o porvir. Ó gentes de tanta terra Erguei a Paz e não a guerra Para florir Todo um novo ser Que nos faça alvorecer E não cair.

100 - Ondas do mar profundo Enormes como o mundo São as marés da vida. Rumorejo do silêncio salino Grande birra de menino Que olha o sol No cume da lida. Quem nos dera quem me dera Ser água e sal e onda Beijo profundo quimera E ter estrelas a fazer a ronda. Tudo é pequena e grande luta Nesta eterna e vã labuta De querer eternizar Cada sopro ou cada grito Saudades de um infinito Que pudesse ou nos quisesse amar. Ah quantos se aventuram Nas ondas do mar e furam O corpo que quase é muro Enfeitiçados das sereias Conquistadores de ameias Pássaro que quiz ser duro.

101 - Vieram de longes terras Desbravar o tempo velho Nunca quiseram guerras Só suavizar este relho. No peito eterna chama No olhar a emoção Do querer que por tanto ama com toda a febre do coração. Migrantes de muitas mátrias Convergindo na Praça maior Onde o alarido das pátrias Esfria e vence o amor.Quando ai quando poderemos sonhar Um tempo sem orfandade Onde tudo seja um cantar De profunda irmandade?!

102 - Quando quem vai ao leme Não ouve não entende não respeita O protesto da multidão Que lhe condena a opção Cedo ou tarde será verme Sofredor de ignóbil maleita. Bem que pode atirar Com todos para o abismo E depois inventar inimigos Que os próprios amigos Serão os primeiros a acusar De demente o seu snobismo. Ouvir os Povos é saber milenar Que ultrapassa a história E ousa a coragem De renovar a aragem De saber voar Para lá da memória. Quem o não fizer Vai na barca do inferno Já dizia Mestre Gil Que o nobre é vil Quando não quer ver O mal que faz Ao seu interno.

103 - Palavras são voos de aves Que traçam luminiscências Onde o silêncio imp+era Por vezes são as caves Onde se perdem existências Que o poder desespera. Pela baixa-mar Os mangais cravam raízes No indecifrável lodo Neste ódio-amor Que relaciona países Ador e o ouro são um bodo. Por entre a fragrância dos pinhais Nasce o sol e muito se levanta Nesta bolha azul que borbulha no espaço A fé e o querer São catedrais Onde encontramos a manta Que nos conforta no seu regaço.

104 - E agora já sabes dizer O que está bem O que está mal Neste tempo de incertezas Quando ouves as certezas Dos que teimam fazer-te crer Que o bem é o teu mal E o mal é o teu bem. E agora não tens desculpa Se voltares a dar O teu apoio a quem te traíu E te arrasa de culpa Para justificar Quanto te roubou Em nome do Povo Que nunca serviu.

105 - Tanta miséria Material e imaterial!... Tanto barco sem remo Que à luz sidéria Tudo é natural... Quem me dera escrever Nos muros das cidades A palavra sol E que pudesse ver A partir daí as idades Em arrebol E tudo se incendiasse Rio que perfeito nos amasse E levasse Para o mais que perfeito Mas acabo sempre sem jeito Olhando todas as travessias Esperando apenas ver Quanto me sorrias Num simples amanhecer E eu escrevendo O que apenas ía lendo Na tua respiração Meu amor meu coração Infinitamente Mundo!...

106 - Ecoam pela urbe as palavras Maior flexibilidade laboral: Há rugas maiores Na cidade. Receios Angústias Medos. Todos percebem: Querem-nos peões Dos seus jogos de azar Na roletas dos negócios Dos interesses Da elite burguesa. Nas suas arengas Repetem credos aos Povos E estão-se nas tintas Para velhos e novos. As ruas passam a famintas? Importante é que fiquem acesas Que eles temem as sombras E as trevas. Têm que passar E não ver Um movimento sequer Contra si próprios. Têm que reinar. O resto pode bem penar. Eles que hoje se julgam no céu Breve estarão no embarque Da barca do inferno. Pelo meio Vão triturando tudo Como convém Ao grande Entrudo.

107 - Há todo um mundo a ruir. A visão ocidental da vida está a decair. A visão social do mundo está a cair. A hidra do lucro e da ambição Está a secar a raíz social. Corromperam-se os senhores do mundo. Os povos perdem a noção do justo e do injusto. Tudo lhes parece igual. O poder surge imundo. Tudo é caos inevitável. A economia sobrepõe-se à vida. É urgente tornar tudo mais transitável. Recolocar a vida Em primeiro lugar. De contrário... o horizonte da extinção É demasiado preponderante. O dano sempre foi bem falante. Insidioso. Cativante. Mas nunca deixou de ser Impiedoso. Quem opta por tal Destrói toda e qualquer Filosofia social.

108 - Na roda da solidão Há ventos estranhos Que sopram de longe Marchetando as praias Querendo quebrar O que somos. Querem-nos sem abrigo Numa Europa Em que a lógica Ainda é de senhores e de vassalos. Pobres suseranos: quanto mais fragilizarem Vassalos e outros peões Mais frágeis serão E de tanto espalharem danos Pouco mais terão Do que alçapões Onde um dia cairão.

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