segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Impressões digitais de um estranho País (livro em construção) Comt.

122 - Anda tudo mais Algodão-doce. Ruas e casas iluminadas. Compra-se o trivial E o excepcional.De não esquecer prendas E votos do melhor Que se pode arranjar. Há maior solidária caridade. Mete-se a pobreza e a miséria para debaixo do tapete. Não se resolvem. Nem a solidão. Nem a doença. Depois da festa Tudo há-de voltar à normalidade. De qualquer modo há Festa família Festa luz Festa amor fraterno Nascimento de Jesus e de outras crianças Como muitos colocam nas janelas. Para alguns É o tempo Em que melhor se aquilata A covardia E a hipocrisia De toda uma gente Que na mior parte da vida É indiferente Ao mal que produz Por a nada se opor Sobre toda a trama da treta Que nos conduz e oprime.

123 - Com que voz Navegarei este meu fado Pleno de marés E de praias abertas Em que noz Vogarei este cuidado De ir de lés a lés Por novas descobertas?! Vamos ter cautela Que a corrente é forte Atenção aos escolhos Escondidos nas águas Nem sempre há a estrela Que nos avisa sobre o norte Os medos são aos molhos E molhamo-nos mais em mágoas. Ah a mítica Belém Onde nasceu a esperança De um mundo novo Que as dores ansiavam Viu rasgar Jerusalém E os poderes em má dança Melhorou um pouco a vida dos Povos Pobres que foram pobres ficavam. Já há pouca paciência Neste andar de cá para lá As arengas do velho poder Mordem mais que cão raivoso As ruas exigem transparência Humildade em vez de crachá A vida existe para se viver E o tempo Não pode ser cão tinhoso.

124 - Uma semente É uma ideia de vida. Qualquer ideia de vida É uma semente. Quem a teve não mente Pode apenas não ser querida. E a verdade De uma ideia de vida É conter em si liberdade Asas para a subida Nunca promover a descida. Uma boa ideia de vida Pode ser massacrada Por quem veja a sua glória perdida Se ela for acreditada Por aqueles que têm limitada A sua liberdade E até a sua vida. Mesmo que pareça vencida Tarde ou cedo Se verá semeada E de tal modo cuidada Que outra vida Na vida será surgida.

domingo, 19 de dezembro de 2010

Impressões digitais de um estranho País (livro em construção) Comt.

121 - Bom-dia Solidão Nesta estrada de arrepio Em que a multidão Nos embrulha de frio Bom-dia Solidão Andorinha rasante Salpicando o coração Com voo de levante. E se o dia se vai fiando Nesta roca milenar Ah que não sei já quando Possa de novo voar. Boa-noite Solidão Entre lua e estrelas Há que ter ambição Para olhar coisas belas Boa-noite Solidão Minha amiga e amante Desde o berço és a mão Que me afaga por diante.

sábado, 18 de dezembro de 2010

Impressões digitais de um estranho País (livro em construção) Comt.

116 - Há quem busque um abraço E nunca o encontre Há quem espere uma palavra amiga E não lhe saiba a cor Há quem seja esperança E adormeça em desespero Há quem esteja abrigado E se sinta sem abrigo. A vida por mais guerra que seja É apenas a busca de uma carícia.

117 - As sociedades financeiras São lavadoiros Onde o capital lava dinheiro Ilude o fisco E cria monstros Nos respectivos serventuários. Hidra de várias cabeças Que tem minado o Mundo E o tem transformado Em mais imundo. Se os governos calam e consentem Ao mesmo tempo Que se abatem sobre os mais frágeis Sinal será De que a corrupção Circula nas suas veias E aos Povos Só resta Quebrar Derrubar ameias.

118 - Olhar a estrada. Cansar de terra. Olhar o mar. Delirar de céu. Talvez não seja nada. Talvez pressinta a guerra E possa desenhar Todo um capital ao léu.
Os ventos não andam de feição. Nos bolsos faltam-nos estrelas. Urgem naturais aragens. Urge pão para todas as fomes do Mundo. Há que combinar razão com coração. Abominar todas as trelas. Ressuscitar coragens. Elevar a alma do Mundo.
Saudar arrebóis. Extripar querelas. Sanar as dores. Enxugar os rostos. Ter a alegria do Sete-sóis. Abrir todas as janelas. Recusar doutos pastores. Ter sonhos sempre a postos.
Ouvir caminhos. Ler os povos. Sentir as almas. Saber culturas. Erguer ninhos. Horizontes novos. Atmosferas calmas. Melhorar estruturas.
E depois ?... Um novo olhar sobre a Vida.

119 - Senhores da economia e da política: o vosso tempo de tiranetes Começa a ser ilha Que o Trabalho começa a estar farto De tudo fazer De tudo pagar E muito pouco ou nada receber. Podereis ter exércitos à vossa volta Mas até esses vão entender Que são irmãos dos que se indignam Dos que se revoltam Contra a vossa ambição Contra a vossa prepotência. Sois a viva expressão da traição Porque a economia e a política deverão servir a Humanidade Nunca para a transformar em serva Apenas para proveito do vosso inteiro capricho.

120 - Setenta e cinco anos tem A rádio portuguesa. Longa vida. Curta Vida. Mais jovem do que antiga. Porque não perdeu A ousadia O inconformismo A esperança De que o amanhã Seja melhor do que o hoje. E o poeta que já foi radialista Só lamenta não ter continuado Embora bem mais longe Do que o seu porto de abrigo. A rádio pode e deve ser O maior palco da cultura Sem gravata Nem bravata Só com espaço Para voar.

sábado, 11 de dezembro de 2010

Impressões digitais de um estranho País (livro em construção) Comt.

109 - Enfeitam-se ruas onde Aumentam os sem-abrigo. Das casas e das lojas Escapulam-se vapores De risos e de calor Para as ruas onde Se multiplicam mendigos. Por todo o lado se apela à solidária doação E até há quem ponha na lapela O carimbo de tal confirmação. Todo o Mundo pede alguma coisa a Todo o Mundo. Todo o Mundo dá qualquer coisa a Todo o Mundo. Sacrifícios Ofertas de lágrimas e de risos Pão e tareia Liberdade e prisão Guerra e Paz. Se tudo o que somos Teve por berço milenar um vírus Há algo que pode estar A adoecer Como quem diz A mudar Ou não fosse estranho Tirar a um ser o sol Empurrá-lo para a chuva e o frio E depois Correr a amenizar-lhe A dor e a carência. Há muito de insolvência Nesta coisa que dá pelo nome De ser humano.

110 - Margem sul Ventre de sonhos Rampa de viagens Por entre aragens Nem sempre de mel e medronhos És a mesquita Dos cavalos alados Em viras de sereias Chão que já pouco semeias Onde se levantam outros fados Para bem e mal da nossa dita. Margem sul Senhora dos mil caminhos Pelo mundo espalhados Alcáçovas de poetas-soldados Estrelas aleitando ninhos Margem sul Dos mil caminhos.

111 - Marés à solta Nos mares bravios Pode não ter volta O homem dos rios. Deixada a terra Em recato a chama Compra-se a guerra Nos bordéis da cama. Ondas são sereias Embalo de aventura Palavras são areias Silêncios a sepultura. Quem nos dera A madrugada Que nos lera De cara lavada. Exaustos de tudo Campeões de nada Somos o entrudo Da vida peada. Tanto conquistado Neste mar revolto Agora amarrotado Pelo polvo solto. Volta a servidão Perde a liberdade Canta a opressão Hinos de grade. E o vento mudou E o tempo vai mudando O cravo murchou No medo que nos vai tomando. Povo de tudo esquecido Incensas quem te trai Quando serás de novo erguido Neste mundo que treme e cai?!...

112 - Dedilho auroras Com os pés doridos De tanto caminho Rua frias a desoras Apurados sentidos No mar do verde pinho. Lágrimas são salinas Amantes do sol da manhã Trombeta do novo dia Asas sobre as campinas Pão de mel e romã Gerando nova alegria. Preso és meu irmão Náufrago da ambição Soldado do egoísmo Lava esse teu coração De tanta podridão Filha do narcisismo. Matar o servilismo É destruir algozes De toda a liberdade Amar é todo um sismo Que nos ergue as vozes Contra toda a falsidade.

113 - Mero sopro de vida Somos um dedo de ilusão Folha planando no vento Tão cedo é subida Tão cedo se vê no chão No arado do pensamento. Temos muito hoje Amanhã somos mendigos Ou até sem abrigo Tudo chega tudo foje Entre amigos e inimigos Raro é haver um amigo. Por tudo isto Não se entende o desdém Que mostra o poder Que até insisto Nada é de ninguém E tudo de cada ser.

114 - Com tanto corte Falência Insolvência Fusão Há todo um sem norte Erguendo escravidão. Há todo um sistema Que deserta Da vida aberta E esquece Todo um tema Social que desaparece. Há vida paralela No seio desta gente Que se diz indigente E trama Todo um País que se estatela Em chama. E os velhos vampiros Esfaimados Vêm apressados Pedir mão solidária A todos os suspiros Da pobreza vária. Dar do nada que nos resta É obrigação De cidadão Pois claro Já que não se desinfesta Da rataria este solo raro. É urgente Reerguer o amanhecer Da liberdade Neste continente Da desigualdade.

115 - Não há liberdade Sem dignidade Se cortam esta Aquela jaz diminuída E em tudo o que resta Mais mísera se torna a vida. Para haver liberdade de expressão É preciso haver Liberdade de consciência Total transparência No que é suposto ser Liberdade de opinião. No mundo há Dois modos de reprimir Pelo lado político Onde não falta a prisão Pelo lado económico Onde se ordena a diminuição Dos salários e logo a seguir Das reghras do trabalho E depois exigir A cega obediência Neutralizando a consciência Com doses maciças de receio A que se segue o medo Inestimável recreio Do capital do enredo.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Impressões digitais de um estranho País ( cont.)

98 - Em meio da noite Um rosto caminha Com uma rosa no peito Aberto à chuva Aberto à lua Quase fonte plangente A voz sussurra La la-la La La Lalala... Diz quem sabe Que volta da manifestação Que houve na capital do ódio Contra tudo o que Espolia Enfraquece Agoniza O ser humano Contra tudo o que Desassossega Angustia Massacra O sereno espírito Das Nações. Diz quem viu Que tinha na face Um pouco de lágrima Que lhe voou Do olhar magoado E mesmo assim Leve Levemente Sorria Com a placidez dos cisnes. Para onde foi Não o sabemos Mas há qualquer coisa Que me sussurra Que se oculta Dentro de mim Dentro de ti Dentro de nós.

99 - Exausto canto Todo um pranto De partir Nesta estrada Onde tudo é nada E muito sentir. Da terra ao mar Um céu grande e voar Para sorrir Nesta contenda Em que o real vira lenda De fugir. Em cada ser um olhar Orvalho de beijar E de ouvir Marulho de águas Combate de mágoas Uivo a latir. Gente que marcha e avança Sem perder esperança De sorrir Deitando borda fora Tudo que mal faz agora E construir Tempo novo Querer de um Povo A esgrimir Lua-cheia de amor Sangue força e suor Levantar o porvir. Ó gentes de tanta terra Erguei a Paz e não a guerra Para florir Todo um novo ser Que nos faça alvorecer E não cair.

100 - Ondas do mar profundo Enormes como o mundo São as marés da vida. Rumorejo do silêncio salino Grande birra de menino Que olha o sol No cume da lida. Quem nos dera quem me dera Ser água e sal e onda Beijo profundo quimera E ter estrelas a fazer a ronda. Tudo é pequena e grande luta Nesta eterna e vã labuta De querer eternizar Cada sopro ou cada grito Saudades de um infinito Que pudesse ou nos quisesse amar. Ah quantos se aventuram Nas ondas do mar e furam O corpo que quase é muro Enfeitiçados das sereias Conquistadores de ameias Pássaro que quiz ser duro.

101 - Vieram de longes terras Desbravar o tempo velho Nunca quiseram guerras Só suavizar este relho. No peito eterna chama No olhar a emoção Do querer que por tanto ama com toda a febre do coração. Migrantes de muitas mátrias Convergindo na Praça maior Onde o alarido das pátrias Esfria e vence o amor.Quando ai quando poderemos sonhar Um tempo sem orfandade Onde tudo seja um cantar De profunda irmandade?!

102 - Quando quem vai ao leme Não ouve não entende não respeita O protesto da multidão Que lhe condena a opção Cedo ou tarde será verme Sofredor de ignóbil maleita. Bem que pode atirar Com todos para o abismo E depois inventar inimigos Que os próprios amigos Serão os primeiros a acusar De demente o seu snobismo. Ouvir os Povos é saber milenar Que ultrapassa a história E ousa a coragem De renovar a aragem De saber voar Para lá da memória. Quem o não fizer Vai na barca do inferno Já dizia Mestre Gil Que o nobre é vil Quando não quer ver O mal que faz Ao seu interno.

103 - Palavras são voos de aves Que traçam luminiscências Onde o silêncio imp+era Por vezes são as caves Onde se perdem existências Que o poder desespera. Pela baixa-mar Os mangais cravam raízes No indecifrável lodo Neste ódio-amor Que relaciona países Ador e o ouro são um bodo. Por entre a fragrância dos pinhais Nasce o sol e muito se levanta Nesta bolha azul que borbulha no espaço A fé e o querer São catedrais Onde encontramos a manta Que nos conforta no seu regaço.

104 - E agora já sabes dizer O que está bem O que está mal Neste tempo de incertezas Quando ouves as certezas Dos que teimam fazer-te crer Que o bem é o teu mal E o mal é o teu bem. E agora não tens desculpa Se voltares a dar O teu apoio a quem te traíu E te arrasa de culpa Para justificar Quanto te roubou Em nome do Povo Que nunca serviu.

105 - Tanta miséria Material e imaterial!... Tanto barco sem remo Que à luz sidéria Tudo é natural... Quem me dera escrever Nos muros das cidades A palavra sol E que pudesse ver A partir daí as idades Em arrebol E tudo se incendiasse Rio que perfeito nos amasse E levasse Para o mais que perfeito Mas acabo sempre sem jeito Olhando todas as travessias Esperando apenas ver Quanto me sorrias Num simples amanhecer E eu escrevendo O que apenas ía lendo Na tua respiração Meu amor meu coração Infinitamente Mundo!...

106 - Ecoam pela urbe as palavras Maior flexibilidade laboral: Há rugas maiores Na cidade. Receios Angústias Medos. Todos percebem: Querem-nos peões Dos seus jogos de azar Na roletas dos negócios Dos interesses Da elite burguesa. Nas suas arengas Repetem credos aos Povos E estão-se nas tintas Para velhos e novos. As ruas passam a famintas? Importante é que fiquem acesas Que eles temem as sombras E as trevas. Têm que passar E não ver Um movimento sequer Contra si próprios. Têm que reinar. O resto pode bem penar. Eles que hoje se julgam no céu Breve estarão no embarque Da barca do inferno. Pelo meio Vão triturando tudo Como convém Ao grande Entrudo.

107 - Há todo um mundo a ruir. A visão ocidental da vida está a decair. A visão social do mundo está a cair. A hidra do lucro e da ambição Está a secar a raíz social. Corromperam-se os senhores do mundo. Os povos perdem a noção do justo e do injusto. Tudo lhes parece igual. O poder surge imundo. Tudo é caos inevitável. A economia sobrepõe-se à vida. É urgente tornar tudo mais transitável. Recolocar a vida Em primeiro lugar. De contrário... o horizonte da extinção É demasiado preponderante. O dano sempre foi bem falante. Insidioso. Cativante. Mas nunca deixou de ser Impiedoso. Quem opta por tal Destrói toda e qualquer Filosofia social.

108 - Na roda da solidão Há ventos estranhos Que sopram de longe Marchetando as praias Querendo quebrar O que somos. Querem-nos sem abrigo Numa Europa Em que a lógica Ainda é de senhores e de vassalos. Pobres suseranos: quanto mais fragilizarem Vassalos e outros peões Mais frágeis serão E de tanto espalharem danos Pouco mais terão Do que alçapões Onde um dia cairão.