sexta-feira, 1 de junho de 2012

Impressões Digitais de um estranho País (cont.)

209 - Ter um emprego. Um trabalho. Qualquer coisa que signifique um preço. Aquilo que acham que se vale por uma qualquer função que se execute Que se assegure. Assim somos úteis Ao somatório de todos nós Que não deixamos de ser A sociedade. Vagamente humana. Ninguém diz Mas todos dizem que a vida é dolorosa Uma aventura de alto risco Poucas vezes uma guloseima Raramente uma felicidade. Todos dizem Mas todos desdizem Que a vida nada tem de escolha Pelo menos livre Não deixando de ser uma opção Entre um cesto de algumas profissões Mais ou menos necessárias ao êxito da sociedade Sobretudo tradutores da paga Que acham sempre generosa para que sejas dócil Aquilo a uqe chama Cidadão exemplar E não dês muito trabalho Aos angélicos guardas do sistema Que nos foi ofertado Pela gula egoísta de uns quantos Que não são priveligiados Apenas e tão só Predestinados aos tronos e lemes Que nos transformam em rebanhos Que manipulam ao sabor Dos ventos dos seus interesses. Mal nos geram Começam logo a formatar-nos De acordo com os catecismos e demais bíblias vigentes. Vamos crescendo E a nossa livre escolha é A obrigatória obediência Aos que nos alimentam Que por sua vez obedecem a toda a engrenagem do sistema que vela pelo bem da famosa sociedade que se diz humana Quando se revela desumana Perfeitamente cáustica da liberdade que diz defender e instituir e aprofundar. Se fazemos beicinho Levamos no focinho. Cuidado. Oficialmente não se bate nas crianças. Nem nas mulheres Nem nos homens Noem nos jovens Nem nos velhos Oficialmente... fazem-nos a vida quotidiana Num perfeito inferno Numa serrena dormência de hospital de alienados De loucos ou de esquizofrénicos e até paranóicos. Com imensas protecções para quase todos os males que nos afligem ou podem vir a afligir. Oficialmente somos a escrita Regular e normalizada de um dicionário de devastação.Oficialmente somos a chatice Das excelências que nos pediram o voto para nos darem todas as falências Em nome de todos os êxitos que um dia qualquer havemos de ter. Uma questão de fé. à cautela As excelências vão arrecadando cofres próprios no mais seguro armazém que o sistema lhes proporcionar De preferência Longe Bem longe do local do... crime. Nós... oficialmente empobrecemos Desfilando e suando no tal vale de lágrimas de que falam fés antigas. Que fizémos Que fazemos das nossas vidinhas? Do silêncio esfarrapado e dorido do Estado Novo fugimos a salto Deixando corpos a apodrecer desde África ao resto do Mundo. Acordámos Enternecidos pelos cravos. Jurámos liberdades Num destino colectivo. Sol de pouca dura.Tornámo-nos burgueses Levedámos individualismos Extasiámo-nos com o consumismo De uma Europa que nos punha a trela e a canga Afogando-nos em subsídios. Tornámo-nos chicos-espertos a fabricar fortunas como antigos ídolos de pés de barro. Tudo crescia numa febre de betão e cimento. Povoámo-nos de estádios de futebol. Enormes. Tudo nos parecia pouco para o afã de nos sentirmos grandes Impados de progresso rápido Pejado de bairros da lata Mestiços como sempre fomos Doutorados pela sacanagem Trabalhando o Mundo e a Vida. Crescemos em dívidas Como víamo fazer aos potentados Sem nos apercebermos De que estávamos a ser encurralados. Convencemo-nos da eternidade deste sossego-desassossego Em que nos viciámos Turistas de todos os exotismos Analfabetos do nosso berço E até para comer importávamos mais do que se produzia Convencidos de que era assim que se fazia Para sermos europeus como os demais. Fechámos minas Abandonámos campos Abatemos frotas pesqueiras e comerciais Reduzimos ao máximo as ferrovias Empanturrámo-nos de automóveis de todas as cilindradas e até de barcos de recreio de todos os tamanhos. Perdemos a metalurgia e o têxtil e o vidro Com o mesmo desplante com que perdíamos a alma Bebendo novas fés de mercados e bolsas e riscos e rabiscos No doce embalo da partidocracia Anafadamente burguesa com sedas e oiros e corrupções que nos cegaram almas e corpos. Das belas mesas fartas Caíam grossas migalhas para o trabalho que pensou que com mais ferro e estopa Tudo correria a bem da nação que adoecia e não sabíamos. Aumentou e refinou e levedou Toda uma cáfila de politiqueiros que desprezam Ostensivamente desprezam o Povo que lhes dá jeito apenas para a hora do voto para parecerem democráticos. A Democracia para tal gentalha é apenas o álibi para serem poder Sem se darem conta de que são Prostitutos e prostitutas incuráveis Títeres do pior da alma humana Altifalantes ou ventrilocóides Da besta Negra A que adora suásticas e chicotes incandescentes nos dorsos dos Povos. Não sabem que são escravos quando se julgam senhores Mesmo que teimem fazer dos Povos... escravos. A maioria dos cidadãos mirra. A dúzia de senhorecos... anafadiza-se. Tresandam a morte. Ao desastre total que pastoreiam Entre estes pastos ressequidos que já não têm seiva para a sua gula. Eles são os salteadores das almas Vigaristas das legitimidades A perversa canalha que ao longo da História tudo trai em nome do oiro. E ainda têm toda a lata para afirmar em tom solene Que só falam e dizem a verdade Que não mentem nem falham ao cumprimento das suas promessas. Claro que sim. Ah!... este snr. Tempo...

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