quarta-feira, 13 de junho de 2012

Impressões digitais de um estranho País (cont.)

212 - E continuamos com o manuscrito que Alice nos trouxe:As democracias em perigo. As democracias em crise. As democracias infuncionais. Todas têm elites deste teor. Decisores de ruínas Auto rotulados de inocentes e salvadores Prestimosos anjos protectores Do Santo Capital Por quem ordenam féretros De tudo e mais alguma coisa. Tudo Para Bem das Nações!... O fascismo sabe reinventar-se! O colonialismo de novo tipo É uma das suas facetas.Para não falar do racismo: de cor e de raça e de etnia e de religião e de ideal ou de dinheiro ou de sexo. Racismo político e social. Manjedoura farta de tiranias. O neo-fascismo é um ogre. Rei e senhor de pântanos. Mecenas da ordem mortífera. Os seus viveiros existem e medram nas democracias burocratizadas Kafkianas Defensoras dos opressores Mesmo que proclamem e finjam defender oprimidos. A tenacidade da raíz do mal Pasma-nos...pela persistência!Tudo isto parece impossível!... Se calhar... até sou impossível. Impossível ser poeta. Impossível ser pintor. Impossível ser escritor. Impossível ser declamador. Impossível ser actor. Impossível ser cidadão. Impossível ser gente. Impossível ser sindicalista. Impossível ser político. Impossível... SER!... e tu... e cada um de vós... Que faz o nós que deveríamos ser. Não vos sentis impossíveis de existir?... Tenho lágrimas na garganta. Tudo o resto move-se Ausente de garganta Ausente de lágrimas. Movemo-nos numa quase apatia Como os que se movem entre escombros de um terramoto. Tudo o que fomos Tudo o que somos Tudo o que quisémos ser É NADA e no entanto é o nosso magma É a nossa alma SOMOS NÓS.Por isso gostamos de ver as entradas de toiros: o animal vem em correria doida Rua fora Entre campinos e cabrestos e cavaleiros e cavaleiras de muito primor E temos a sensação de sermos valentes A olhar o perigo Olhos nos olhos Que por nós passa quase à velocidade da luz. Os mais ousados Sujeitam-se à cornada. O Capital é bem pior e esmaga-nos contra as tábuas da vida se não o ousarmos estocar. A política ou a economia Como tudo o que o homem criou Só tem sentido Se servir a Humanidade. A perversão de tudo o que vivemos É querer que a coisa criada Seja o ídolo que nos submete Que nos escraviza Que nos vai matando A cada segundo que passa. Os que tal promovem São criminosos legalizados. Por nós Acagaçados pelo voto dado nunca para este fim Mas que eles transformaram Na traição completa Repleta pelo desprezo que nos dão Mesmo quando sorriem E discursam Falas de amansar Para que ninguém acorde da ileteracia da informação não retida Da inteligência não ginasticada Da ignorância profunda Da recusa absoluta em questionar. Os poucos que ainda ousam confrontar o poder são tidos como desordeiros Ou meros sabotadores. No fundo de nós Até sabemos que eles têm razão mas... agridem a nossa covardia letárgica e desenrascada. Esquema aqui Esquema ali Lá vamos furando Sobrevivendo Mas nunca vivendo o pleno a que sempre tivémos direito. Somos uns... tótós. Além do mais Temos por hábito elogiar os mortos. Em vida Todos quantos criaram arte e divulgaram cultura São quase sempre Uns doidos varridosVidas em fios de navalhas Rostos de imensos sorrisos Mesmo quando a alma está mal Ricos de tudo menos de dinheiro Ardentes profetas da PAZ e da Democracia Como cultura e sistema político e social Mas inevitáveis sacos de boxe Dos que pr0ofessam a rapina Dos que precisam da incultura e da estupidez generalizadas para serem grandes. Quando um artista morre Logo se lhe incensa o génio Se exaltam as virtudes Fazem-se homenagens póstumas com placa de rua a condizer. Também as excelências Que nos criam todas as dependências Martelando-nos as vidas com cinzéis de desdém Os que nos roubam tudo Desde a dignidade à alma Quando morrem Acabam santificados e com todos os crimes perdoados.Esquecemo-nos de que estamos longe Muito e muito longe da cultura da Paz democrática. Falta-nos o engenho para nos preenchermos de humildade e de simplicidade Únicas vias para podermos ser sapientes com todo um oceano de serenidade. Andamos arredios dos caminhos da iluminação. Não temos argumentos para a insurreição. Quando deixaremos de ser tótós? Quando seremos capazes De abrir portas ao sol em todas as casas e em todos os seres? Quando perceberemos que as disputas São ímans dos disparates e que cada ser contém em si uma qualquer mina rara que pode enriquecer a todos? Quando entenderemos que a partilha é a única mesa onde cabem todos os que desejam a Paz Cultura democrática e alegria Para que a Vida possa ressurgir?

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