segunda-feira, 18 de julho de 2011

Impressões digitais de um estranho País ( cont.)

170 - Cobre tempo Cobre vida Além do tumulto da alma Rio seiva guarida Tons pastel Tarde calma. Que vos dizer senão utopia Neste retroceder que nos cavalga Um rio pode não ser mais que ria Quando a miséria é menos que malga. Ando louco nesta romaria De um povo que festeja o algoz Resigna-se a toda a olaria Que o põe menos que casca de noz. Quase se contrai doença mental Nesta resistência contra a ignomínia O meu País não é este Portugal Que da miséria finge alegria.Dói-me cada traço de alguma felicidade Neste vai e vem de muita olaria Até a aldeia que ser cidade E a noite deseja apenas ser dia. Caminho e respiro em contramão à lógica dos poderes instituídos Contra a frieldade oponho um coração Que não tolera ver tantos excluídos. Devagar devagarinho vou hasteando A bandeira rubra da ousadia Vencer é romper do não sei quando Minar é ragra imposta todo o dia.
Era uma vez um senhor importante Que dizia a todas as crianças Que a vida era um mar de tranças E a febre num dia de feirante. Quem dele mais não soubesse Ficava mudo de tanta sabedoria E depois julgava ser alegria Todo o seu tempo que nos anoitece. Mas da noite se leveda e tece Nova manhã que nos renova Ao raiar do sol há uma nova trova Que nos liquida ou engrandece.
Sento-me no cais do presente Horas penteiam seus longos cabelos No rebordo da brisa De um tempo canastrão Ao mesmo tempo que idílico. Malas e malas de receios Esperanças e outras angústias Revelam os viandantes do temor. E não lhes falta amor Nem carícias nervosas Do adeus e da partida. Para onde vão? Para a hipótese de estarem longe do inferno Que ajudaram a criar com o seu voto.
Se queres muito um novo caminho Despe as velhas roupas Lava no rio os teus pensamentos Bebe o voo dos pássaros. Não esqueças que és irmão De cada ser que respira a Terra Deixa entrar a claridade Em todo o teu ser e sorri. Ensina as crianças e os jovens A urgência de sempre se gritar Que a justiça não pode ser negada Nem a dignidade nos pode ser roubada. É urgente que o tempo velho Não volta a semear iniquidade.
Uma boca não pode ser selada Quando os olhos estão cheios Com combóios de tristeza E contentores de sofrimento. Temos que alindar as ruas Com as bandeiras da exigência Enchê-las de vizinhos e de amigos Que alivêm despir as suas mágoas. Das ruas onde passeia o nosso desassossego Não podemos partir sem alcançar O que queremos O que precisamos Dignidade e justiça e liberdade. Ninguém pode faltar ao encontro Que nos leva a rasgar a noite E fazer florir a madrugada.
Quando a iniquidade nos trama Quando o capital nos afoga e devora Quando a fraternidade é rasgada Quando a alegria se vê exilada Cada um de nós terá que saber Que terá que deixar a sua marca Nocaminho oficina onde se amassa O mundo novo que queremos erguer.A impossibilidade só existe enquanto Não conseguirmos ou não quisermos Mudar o que agora nos amofina E carregar olhos de atrevimento. A inevitabilidade de usar grilhetas Só existe enquanto não ousarmos Despedir do leme os excelentes Traficantes de todas as explorações.
Menina Lisboa não seja teimosa E veja bem o quanto a têm tramado Desde que a fizeram fina e vaidosa Capital de um Portugal arruinado. Menina Lisboa não se deixe burlar Pelas novidades que lhe chegam de fora O pão vem da terra e também do mar É português e não quer ir embora. Menina Lisboa não se deixe enfadar Quando a arraia-miúda encher as avenidas Exigindo que a Índia se volte a achar Neste mar revolto das suas vidas. Menina Lisboa noiva de rio Amante do mar Não seja abrigo para os impostores Que vexam o Povo para consolar Do capital os velhos senhores.

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