quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Impressões digitais de um estranho País ( cont.)

141 - Amemos a Liberdade. Mesmo que espoliados economicamente. Obrigados a dizer bem e sorrindo do patrão. Coartados na livre expressão do que pensamos. Escravos de horários de produção de benefícios em off-shores. Desconcertados por todo um imbecil nepotismo de governantes enloucados. Sofredores compulsivos de todos os aumentos dos bens essenciais. Observantes passivos de todos os embustes e mafias e esbanjamentos e mistificações dos santos e honestíssimos políticos e economistas e contrabandistas do fácil e despudorado e célere enriquecimento. Fartinhos de dores e de esperanças várias. Amemos a Liberdade. Com a mesma sanha com que o Egipto destronou Mubarak o faraó do grande embuste corruptivo. Indiferente à miséria que asfixiava as ruas e bairros da maioria do seu povo. Mesmo que haja ameaças de tareias e mortes ou até factos. Amemos a Liberdade. Não desarmemos de hastear a nossa indignação e repulsa Por todos quantos Nos tramam a vida E nos esganam a alma Espoliando-nos de direitos Castrando-nos do futuro. Amemos a Liberdade E mudemos de vez os carris Onde circula A morte anunciada às mãos de uma economia Que apenas engorda Os obesos dos regimes Os lateiros dos favores Os mercenários do embuste mercantil. Amemos a Liberdade E como o Povo do Sol e das Pirâmides Não desertemos das ruas Onde hasteamos e hastearemos a nossa indignação O nosso protesto Contra toda a desonra e humilhação Que nos atiram. Amemos a Liberdade E não nos cansemos Até derrotar Toda esta bestialidade reinante.

142 - Chove. O tempo está difícil. Vários são os Países onde Os Povos se revoltam. No meu A resignação Costura meias. Meias águas Meias tintas Meias palavras Meias verdades. No meu País Muito se perde Enquanto alguns ganham em demasia. No meu País A resignação É a cortesia Da miséria Da ignorância. Tudo quer ser especialista de algo. Acaba tudo a ser ignorante Do essencial: A vida melhor Que todos poderiam ter. Não têm. Têm solidões A morrerem a solo. Esquecidas Por toda uma rebentação Da indiferença. Esta a rainha De todas as doenças De que sofre o meu País. Como a pobreza que ataca tudo Hera que afogasse a árvore hospedeira. Não. Chamam-lhe dificuldades e crise. Típico do servo Que sempre foi resignado. Esquece que nos condenam À insensatez de múltiplos sacrifícios Que o Povo se habituava à obesidade capitalista. E esta é adereço só de alguns. Ah O Estado gasta ou gastou demais. O Estado é o conjunto de cidadãos. Os governos é que decidiram e impuseram receitas e despesas. O Estado nunca foi ouvido. Quando muito foi iludido Por ideias de progresso Que em nada o melhoraram. Deram-lhe encadernação mais nova. Não lhe remoçaram o âmago. E os mesmo que esbanjaram Que corromperam E foram corrompidos São os clínicos que tentam salvar o doente. E por ser doente A resignação Estupidifica e entorpece Todo um momento Em que tudo Desaparece E a vida definha e empobrece E a tudo e a todos Embrutece. É assim Que a esperteza Toma rédeas E galopa Neste tempo em que a chuva não pára E as revoltas alastram Pelas veias dos Povos.

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